Cadeia de hortaliças movimenta US$ 20 bilhões e 32% ficam com o varejo

Apenas um quarto do valor gerado pela cadeia de hortaliças no Brasil fica com os agricultores, segundo estudo que será divulgado hoje, em Brasília, pela Confederação da Agricultura e da Pecuária (CNA). Encomendado pela entidade à consultoria Markestrat, com sede em Ribeirão Preto (SP) o levantamento, que adaptou a metodologia aplicada pela empresa a culturas como cana-de-açúcar, laranja e soja, aponta que o segmento movimentou US$ 20 bilhões em 2016 no país, dos quais 45% ficaram concentrados na cadeia de distribuição, principalmente no varejo (32%).

Segundo Luciano Vilela, presidente da Comissão Nacional de Hortaliças e Flores da CNA, o peso do varejo reflete o elevado custo e as perdas com transporte e armazenamento dentro e fora das fazendas. “Por serem produtos perecíveis, a logística é muito especializada. Com isso, o transporte se torna um custo muito grande nessa categoria e, consequentemente, acaba sendo cobrado no elo seguinte, que é a distribuição”, disse Vilela.

De um universo de mais de 100 produtos, o trabalho se concentrou nas cadeias produtivas de alface, tomate, batata, alho, cenoura, beterraba, abóbora, cebola, abobrinha, pimentão, couve-flor e coentro. Juntas, essas culturas respondem por cerca de 65% da área plantada de hortaliças no país e geram um PIB de R$ 18.63 bilhões (US$ 5.3 bilhões).

Apenas a título de comparação, cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), baseados em outra metodologia, indicam que, no ano passado, o PIB do agronegócio brasileiro somou cerca de R$ 6.3 trilhões. Do ponto de vista da arrecadação, o estudo mostra que as hortaliças geraram aos cofres públicos R$ 6.98 bilhões em 2016, quando descontado o montante gerado pela comercialização de insumos.

Segundo a Receita Federal, naquele ano a arrecadação com impostos somou R$ 1.289 trilhão, com queda de 2,97% na comparação com o ano anterior. “O objetivo do estudo é mostrar o potencial que a cadeia tem para ‘empoderar’ os produtores e os representantes do segmento, de modo a fortalecer seus pleitos junto ao governo”, disse José Eduardo Brandão Costa, assessor técnico da Comissão Nacional de Fruticultura da CNA. Entre as demandas prioritárias, Costa ressaltou a necessidade de maior participação do segmento nos planos agrícolas nacionais.

Atualmente, a produção de hortaliças é contemplada pelos planos voltados à agricultura familiar, dada sua distribuição em pequenas propriedades, com geração de 2.2 milhões de empregos diretos. “A partir desse estudo, acreditamos que o segmento pode fazer parte de um corpo maior, já que hoje o mercado de hortaliças está crescendo muito. Já temos grandes empresas e a tendência é que ele passe de um perfil familiar para o agroindustrial”, afirmou o assessor da CNA.

Luciano Vilela acredita que essa transformação deverá se dar, em boa medida, pelos padrões de exigência das grandes redes de distribuição, sobretudo o varejo. “Essa concentração das grandes redes é um fato. Tenho para mim que isso é um problema que a gente tem de observar com muito carinho”, disse.

Segundo o levantamento, os produtos in natura representaram 47% do faturamento do varejo com hortaliças no ano passado, pouco menos que a fatia dos produtos industrializados do segmento (48%) e bem acima da participação das hortaliças “minimamente processadas” (5%).

A solução para garantir que os pequenos produtores ganhem força, na avaliação da CNA, passa por maior capacitação e uso de tecnologias. As melhorias, declarou Vilela, teriam impactos diretos na qualidade e no volume de oferta disponível. “Se conseguíssemos reduzir drasticamente o desperdício, sobretudo em armazenamento e transporte, a gente teria um aumento de disponibilidade de produtos sem aumento de área”.

No caso de culturas mais sensíveis, como as folhosas, os percentuais de perda na produção são estimados pelo estudo em 35%, sendo 30% no mercado de cenoura e 20% no de beterraba. Grande parte desse prejuízo acontece, ainda segundo a pesquisa, no momento da classificação dos produtos, quando são descartados aqueles considerados “fora do padrão” exigido pelo consumidor e, consequentemente, pelos distribuidores. “Quando o varejo se organiza e exige isso do fornecedor, tudo mundo é forçado a se organizar”, disse Vilela.

 

Fonte: Valor Econômico

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