Brasil tomará liderança dos EUA na exportação de milho em cinco anos

O Brasil pode eclipsar os Estados Unidos como o maior exportador de milho dentro de cinco anos, dando fim a décadas de domínio norte-americano do mercado de um dos alimentos básicos do mundo.

Produtores dos EUA, que por gerações se orgulham de estar no celeiro do mundo, agora sofrem com os preços dos grãos e infraestrutura envelhecida. Os esforços de Washington para renegociar acordos comerciais também podem afetar as exportações.

Ao mesmo tempo, o Brasil está colhendo os benefícios de seu investimento massivo em infraestrutura para exportação. Em 2012/13, o país sul-americano ultrapassou os EUA como maior exportador de soja. Três anos depois, a Rússia desbancou os EUA do primeiro lugar na exportação de trigo.

“Se você olhar cinco, dez anos adiante, o Brasil vai competir com os EUA para ser o primeiro exportador de milho do mundo”, disse Michael Cordonnier, presidente da consultoria Soybean and Corn Advisor.

“Eles têm terra, com centenas de milhões de hectares que podem ser voltados para a produção; têm o clima e o know-how. Do ponto de vista agronômico, não há limites à vista.”

Bilhões de dólares investidos nos portos do Brasil, principalmente nos do Norte, encerraram anos de atrasos crônicos na exportação, tornando o envio mais barato e impulsionando compras de consumidores como a China.

Além de soja, o Brasil também é o maior fornecedor de carne bovina, de frango, açúcar, café e suco de laranja.
O país está aquém dos EUA em infraestrutura rodoviária. Porém, melhorias graduais são esperadas na área.

Os fazendeiros norte-americanos enfrentam seus próprios desafios. Um bloqueio no sistema de barragens nos rios do meio-oeste feriu a reputação dos EUA como fornecedor de grãos mais confiável do mundo.

O USDA estima que as exportações de milho dos EUA vão diminuir em 6.2 milhões de toneladas – volume avaliado em cerca de US$ 1 bilhão, no atual ano comercial. Enquanto isso, espera-se que as exportações de milho do Brasil aumentem em um milhão de toneladas em comparação ao ano anterior, acelerando a ascensão do país no setor.

“Se nós não olharmos para o futuro, haverá um ponto em que seremos empurrados para o segundo lugar”, disse Fred Helms, um fazendeiro de Illinois que viajou recentemente pelo Brasil e pela Argentina com o Illinois Farm Bureau para ter uma noção da competição. “Não é divertido ser o número dois.”

O clima mais quente do Brasil dá aos produtores uma temporada mais longa do que seu equivalente nos EUA. A maior parte dos produtores brasileiros pode semear o milho logo após colher a soja, plantando duas safras de milho por ano. Os fazendeiros dos EUA precisam esperar o inverno passar.

“Isso levou a um salto nas plantações de milho brasileiras, já que os fazendeiros lutam para impulsionar a produção de soja para satisfazer a demanda da China”, afirmou Cordonnier.

Espera-se que o milho dos EUA represente apenas 33,8% das exportações globais de milho no ano-safra de 2017/18, caindo dos 62,6% de uma década atrás, segundo as projeções do USDA.

As projeções do Brasil de exportação de 35 milhões de toneladas corresponderiam a 22,7% dos embarques globais.
Apenas 20 anos atrás o Brasil exportou apenas seis milhões de toneladas de milho, menos de 1% do total mundial.

“Dez anos atrás ninguém acreditaria que o país alcançaria isso”, disse Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec, a associação dos exportadores de cereais do Brasil. “Os produtores do país são muito eficientes e as coisas aconteceram rápido”.

Dados mais recentes do governo brasileiro mostram que o país exportou três milhões de toneladas de milho em janeiro, mais que o dobro das 1.45 milhão de toneladas enviadas para o exterior um ano antes.

Manter um lugar

Os EUA caíram brevemente da sua posição como maior exportador de milho em 2012/13, mas isso foi causado pela seca. Da próxima vez que o Brasil ultrapassar os EUA, provavelmente será algo duradouro.

Mudanças em pactos comerciais podem acelerar o declínio da participação do mercado americano. Os EUA, o Canadá e o México estão renegociando o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês).

Esse acordo deu aos fazendeiros norte-americanos livre acesso ao seu principal cliente, o México, que representava 23,8% dos envios de milho dos EUA no ano-safra de 2016/17. Vendedores brasileiros já estão fazendo incursões ao México.

Por enquanto, o USDA prevê que os EUA vão se manter como o principal exportador de milho pela próxima década, mas com a participação de mercado caindo para menos de 30%. “Nós não somos mais os únicos jogadores no mundo”, disse Mark Welch, professor assistente no Departamento de Econômia Agrícola na Universidade do Texas A&M.

“É crítico que os EUA mantenham um lugar à mesa em se tratando em acordos comerciais, relações comerciais e parceiros comerciais.”

 

Fonte: Reuters

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