Brasil precisa investir em infraestrutura para aproveitar potencial hidroviário, afirma diretor da SNA

Paulo de Tarso, Helio Portocarrero, Carlos Von Doellinger, Helio Sirimarco, Francisco Villela, Roberto Fendt, Rubem Novaes, Marcio Sette Fortes, Tulio Arvelo Duran, Arnim Lore, Sérgio Gabizo, Antonio Meirelles e Antonio Alvarenga. Foto: SNA

 

As hidrovias são uma alternativa promissora para o setor de logística no Brasil. Porém, é preciso investir em infraestrutura. É o que afirma Marcio Sette Fortes, diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

Baseado em dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e de outras fontes, o diretor da SNA disse que a participação de hidrovias na matriz de transporte de cargas (agronegócio, minério, etc.) está em torno de 4%. Já em relação ao modal rodoviário, esse percentual é de 58%.

“O Ministério dos Transportes quer ampliar para 29%, num prazo de 15 a 20 anos, a participação do modal aquaviário, que atualmente representa 13% de todo o setor de logística, mas para isso será necessário investir R$ 15,8 bilhões”, disse Fortes durante apresentação no Conselho de Economia da SNA, na sexta-feira (25/8).

Na ocasião, ele falou sobre investimentos em logística como ferramenta competitiva para o agronegócio, mostrando o quadro atual das redes rodoviária e ferroviária e as vantagens do sistema hidroviário em relação a outros modais.

“Para se ter uma ideia, conseguimos colocar a carga de 60 caminhões em 16 vagões ferroviários, e a carga desses 16 vagões pode ser comportada em uma única barcaça”, afirmou, acrescentando que “atualmente, são transportadas pelas hidrovias brasileiras cerca de 45 milhões de toneladas de cargas/ano, enquanto o potencial identificado é pelo menos quatro vezes maior”.

Em comparação ao modal rodoviário, Fortes salientou que o sistema hidroviário é mais limpo, com emissão seis vezes menor de CO2, além de mais barato, mais seguro e com nível de consumo de combustível 19 vezes menor”. Além disso, observou o diretor da SNA, “em hidrovias para fluxo de granéis agrícolas e minérios em longas distâncias, o custo do frete é metade do valor do modal ferroviário e um quarto do rodoviário”.

 

ENTRAVES

No entanto, Fortes chamou a atenção para alguns entraves que ainda afetam o transporte aquaviário. “É preciso desonerar a carga tributária do ICMS para combustíveis de navegação fluvial. Existe uma briga nesse sentido para diminuir essa carga”.

Outro risco apontado pelo diretor é a construção de barragens para ampliar o potencial do setor hidrelétrico. “As barragens causam o assoreamento de rios, que ficam sem condições para navegação. Se por um lado há gastos para melhorar o sistema hidrelétrico, por outro há custos adicionais de obras para tornar os rios navegáveis”, observou, citando como exemplo a hidrovia do rio Madeira, em Rondônia.

Fortes destacou também que diversos obstáculos regulatórios envolvendo licenciamento ambiental muitas vezes impedem a abertura de hidrovias.

Presente à reunião do Conselho de Economia, o ex-ministro das Cidades, Márcio Fortes disse que a influência de fenômenos climáticos também reduz a navegabilidade nos rios, com o aparecimento de bancos de areia, que se somam aos assoreamentos e a outros problemas. O ex-ministro mencionou ainda que o muitas vezes há necessidade de construir eclusas para tornar as vias navegáveis, e isso aumenta o custo de implantação de hidrovias.

 

Ex-ministro Marcio Fortes. Foto: SNA

 

PROJETOS E SERVIÇOS

Ao falar sobre projetos de relevância para o desenvolvimento do setor hidroportuário, o diretor da SNA citou importantes eixos como o Arco Norte; as hidrovias Teles Pires-Tapajós, Tocantins-Araguaia e Paraná-Tietê – que é considerada a mais desenvolvida e uma das mais importantes do país, com 1.653 km de vias navegáveis; o complexo portuário Miritituba-Barcarena, no Pará, que segundo Fortes “reduz em 20% o tempo de uma viagem marítima de longo curso para a Europa, economizando frete”, e o Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram).

Em linhas gerais, Fortes afirmou que, em matéria de logística no Brasil, “o que vem sendo feito atualmente é a manutenção dos serviços que já existem, e não a expansão da oferta de serviços”. Ele também chamou a atenção para os indicadores que medem o nível de confiabilidade de um determinado modal. “Fatores como perdas, velocidade e preço são importantes. Não adianta ter o melhor preço, por exemplo, com muitas perdas”.

O diretor da SNA, Paulo Protásio, que participou da reunião do Conselho, disse que o setor de logística no país tem “um potencial extraordinário”; no entanto, frisou que, “sem uma resposta do setor empresarial, não haverá avanços”. Na ocasião, o diretor propôs a coordenação de um plano nacional de logística com ênfase na área agrícola.

 

DEBATES

Os participantes do encontro também debateram, entre outros assuntos, a necessidade de maior investimento na navegação de cabotagem; a fase de conclusão da BR-163, importante via para o escoamento de soja e milho; a manutenção da qualidade dos serviços de logística, e questões relativas à armazenagem, que é a atividade do setor com maior nível de perda, segundo recente estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

A reunião do Conselho de Economia foi coordenada por Rubem Novaes e contou ainda com as presenças de Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura; dos vice-presidentes da instituição, Hélio Sirimarco e Tito Ryff; dos diretores da SNA Francisco Villela, Paulo Protásio, Rony Oliveira e Tulio Arvelo Duran; dos economistas Arnim Lore, Ana Novaes, Antonio Meirelles, Carlos Von Doellinger, Helio Portocarrero, Ney Brito, Paulo de Tarso Medeiros, Paulo Guedes, Roberto Fendt e Sérgio Gabizo, e do administrador Rui Otávio Andrade.

 

Por equipe SNA/Rio

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