Brasil pode ampliar mercado no Reino Unido, analisa diretor da SNA Marcio Fortes

Com a saída do Reino Unido da União Europeia, Brasil pode ampliar negócios ligados à agricultura com o Brexit. Foto: Arquivo SNA
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, Brasil pode ampliar negócios ligados à agricultura com o Brexit, acredita o diretor da SNA Marcio Sette Fortes. Foto: Arquivo SNA

A semana foi marcada por uma notícia que, a princípio, deve impactar os rumos geopolíticos e econômicos em todo o mundo, nas próximas décadas: a saída do Reino Unido do bloco da União Europeia. Por meio de um referendo popular, a opção de sair da UE venceu com mais de 1,2 milhões de votos. O resultado foi divulgado na madrugada da última sexta-feira, 24 de junho. Para o Brasil, fica a pergunta: o que o País pode perder e/ou ganhar com esta mudança?

Na opinião do diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e economista Marcio Sette Fortes, para entender prováveis desdobramentos sobre o comércio agrícola entre o Brasil e a UE, é preciso ter uma visão mais abrangente sobre o comportamento do bloco europeu, a partir dos impactos da saída do Reino Unido, que é formado pela Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales.

“De início, cabe uma consideração: individualmente, o Reino Unido não figura entre os dez principais parceiros comerciais do Brasil, o que não torna desprezível a corrente de comércio entre os dois. Para negociação comercial direta com o Reino Unido, há que se considerar, em uma visão superficial que, como a agricultura não ocupa posição de destaque naquela economia, agora, haveria maiores chances para os produtos agrícolas brasileiros ampliarem sua participação naquele mercado, já sem subsídios tradicionais da Política Agrícola Comum (PAC)”, avalia o diretor da SNA, que também é consultor do escritório Fortes&Carneiro Advogados, professor de Relações Internacionais do Ibmec, no Rio de Janeiro, e conselheiro da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

 

CARNE BRASILEIRA

Ainda conforme sua análise, existem problemas que merecem ser considerados: “as tradicionais barreiras à importação da Irlanda contra a carne brasileira se farão sentir, de forma mais acentuada”. “Ademais, o livre acesso ao mercado europeu, por conta das vantagens de ser membro do bloco, desapareceriam, afetando diretamente a JBS – empresa brasileira do setor de proteínas animais –, que exporta para países da UE.”

Apesar de o Brasil poder levar alguma vantagem com a saída do Reino Unido do bloco da União Europeia, para Fortes, esta mudança “implicará, de forma geral, em um provável retrocesso do bloco europeu, no que se refere ao tema ‘abertura comercial’, uma vez que os britânicos eram os grandes incentivadores do tratado comercial transatlântico entre a UE e os Estados Unidos”.

“Não digo que não haja interesse naquele acordo por parte da Europa, como um todo. No entanto, é mister considerar que o tema ‘segurança alimentar’ – um fantasma para os europeus que viveram os horrores da guerra – continua na ordem do dia, evocando o protecionismo”, ressalta o diretor da SNA.

“O que isto significa para o Brasil? Nosso País é membro pleno do Mercosul – uma União Aduaneira – e, por isto, para tecer acordos comerciais bilaterais com terceiros países ou blocos, deve fazê-lo no modelo quatro mais um, ou seja, negocia em bloco por meio do Mercosul. Assim, há quase duas décadas, o Mercosul vem tentando formalizar um acordo de comércio com a União Europeia, mas sem sucesso”, salienta.

 

DIFICULDADES

Agora, com o Brexit – união das palavras Britain (Grã-Bretanha) e Exit (saída, em inglês) –, Fortes prevê: “O que já era difícil poderá se tornar impossível por dois motivos: o primeiro deles é que, agora, o bloco europeu não está olhando propriamente para fora, mas tentando entender sua nova configuração interna e, provavelmente, preocupando-se com uma fragmentação do bloco, com a possível saída de outros países. Assim, desenvolver tratados internacionais de comércio não é bem a prioridade para o momento”.

O segundo motivo, continua o diretor da SNA, “é análogo àquele que fará com que as bases sobre as quais se assentam o acordo transatlântico, com os norte-americanos, venham a serem revistas”. “O acordo Mercosul-União Europeia poderá vir a ser obstado, na medida em que propõe maior abertura, diante de uma provável nova onda protecionista encabeçada por países agrícolas europeus.”

Neste sentido, de acordo com Fortes, “cabe lembrar que, recentemente, já em 2016, foram feitas trocas de ofertas – a primeira vez, desde 2004 – e o bloco europeu fez questão de pontuar exclusões de produtos do agronegócio”. “O etanol e a carne bovina ficam de fora; assim delinearam os europeus, antes mesmo do Brexit.”

 

OUTRAS ANÁLISES

 

“A relação bilateral entre Brasil e Reino Unido é positiva em termos políticos, comerciais e de cooperação”, destaca Alinne Oliveira, superintendente de Relações Internacionais da CNA. Foto: Tony Oliveira/Divulgação CNA
“A relação bilateral entre Brasil e Reino Unido é positiva em termos políticos, comerciais e de cooperação”, destaca Alinne Oliveira, superintendente de Relações Internacionais da CNA. Foto: Tony Oliveira/Divulgação CNA

Para Alinne Oliveira, superintendente de Relações Internacionais da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), um dos principais questionamentos, como fruto deste resultado, está relacionado ao futuro político do bloco europeu. Para ela, produtores nacionais de açúcar, carnes, café, entre outros produtos agropecuários, poderão se beneficiar de uma parceria ainda mais intensa entre os países.

“Por enquanto, precisamos aguardar as diretrizes das negociações da saída do Reino Unido da UE para podermos quantificar possíveis ganhos – ou perdas – para a relação bilateral comercial com o Brasil. Certamente, a parceria política e de cooperação continuarão fortes, assim como tem sido historicamente.”

Em entrevista à equipe SNA/RJo presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, diz que “O Reino Unido é um relevante importador de alimentos e, neste sentido, com as mudanças ocorridas no cenário político-econômico, não acreditamos que acontecerão retrações e, sim, oportunidades para a intensificação dos negócios”.

Sozinho, informa ele, o Reino Unido é um grande importador de carne de frango do Brasil, tendo importado 77,5 mil toneladas, em 2015. “Neste contexto, mais livre das amarras do bloco, o país europeu poderá intensificar os negócios com os exportadores brasileiros, visto que temos custos competitivos para abastecer este mercado. Obviamente, nossa estratégia será a de complementariedade de mercado, atendendo aos espaços que os produtores locais não ocupam”, salienta o presidente da ABPA.

 

“O Reino Unido é um relevante importador de alimentos. Neste sentido, com as mudanças ocorridas no cenário político-econômico, não acreditamos que acontecerão retrações e, sim, oportunidades para a intensificação dos negócios”, diz o presidente da ABPA, Francisco Turra. Foto: Édi Pereira/Divulgação ABPA
“O Reino Unido é um relevante importador de alimentos. Neste sentido, com as mudanças ocorridas no cenário político-econômico, não acreditamos que acontecerão retrações e, sim, oportunidades para a intensificação dos negócios”, diz o presidente da ABPA, Francisco Turra. Foto: Édi Pereira/Divulgação ABPA

Em contato com a equipe SNA/RJ, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) optou por enviar um comunicado oficial, comentando que “no momento, é impossível quantificar o impacto desta medida para as exportações de carne bovina brasileira, sem que sejam esclarecidas as regras de acesso ao mercado britânico”.

De acordo com a instituição, as exportações de carne bovina para o Reino Unido representam 19% em valor e 24% em volume do que é exportado do Brasil para a União Europeia. Em relação ao total exportado pelo País, o Reino Unido representa apenas 2,6% do volume embarcado pelo produtor brasileiro para todo o mundo.

 

Por equipe SNA/RJ

 

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