BR-163 trava e afeta escoamento no Norte

Se os portos do Arco Norte tendem a ganhar participação no escoamento da produção de soja neste ano, como mostrou recente estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o frete para Santarém e Barcarena, no Pará, e em Itaqui, no Maranhão, continua um entrave. Levantamento do grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog) aponta que o custo médio para levar grãos a esses portos é R$ 40,00 por tonelada maior que para outros destinos com distância semelhante.

De Sinop, em Mato Grosso, até Alto Araguaia, no mesmo Estado, são percorridos quase 900 quilômetros ao custo médio de R$ 131,37 a tonelada no fim de janeiro. De Sinop a Itaituba, no Pará, com 999 quilômetros percorridos, o valor cobrado é de R$ 175,72. “O problema é que faltam 100 quilômetros de asfalto na BR-163, o que dificulta o transporte, desgasta o caminhão e atrasa o trajeto. Além disso, a região tem muitas chuvas, que pioram mais a situação da estrada”, disse Ângelo Ozelame, gestor técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

As chuvas que danificam a estrada e provocam atrasos no escoamento não sustentam apenas os preços mais elevados de frete na rota Norte. Elas interrompem desde o início da tarde de terça-feira os embarques de soja nos terminais de transbordo de Miritituba, no Pará, devido aos atoleiros no trecho não asfaltado da BR-163, entre Novo Progresso e Trairão.

Segundo a Abiove, a situação da estrada se tornou mais crítica neste verão amazônico. Conforme a entidade, que representa grandes tradings, o escoamento ocorre em “soluços”. Com capacidade de tráfego de 800 caminhões pesados por dia, a BR-163 estava recebendo a metade do volume de carga prevista nos últimos dias. “Mas desde o início da tarde de terça parou tudo. Não chega mais nada a Miritituba”, disse Daniel Amaral, gerente da Abiove.

Miritituba é o primeiro ponto de recebimento de grãos dos caminhões na rota para o Norte. De lá, a carga é transbordada para barcaças que seguem pelo Tapajós até o desembarque nos terminais portuários de Santarém e Barcarena.

O trecho sem asfalto está justamente antes de se chegar a Miritituba, o que atrapalha o cumprimento dos contratos de exportação do grão. Segundo a Abiove, o prejuízo mensurável mais óbvio é de US$ 400.000,00 por dia por demurrage (a indenização paga pelo afretador pelo tempo que exceder nas operações de carga e descarga de um navio), além das perdas com os atrasos no recebimento da soja dos armazéns e produtores.

A Abiove se reuniu ontem com a Casa Civil para pedir uma ação emergencial na região. A entidade quer que o Exército retome os trabalhos de contenção no período de chuvas – a utilização de cascalho e rolo compressor nos atoleiros, de forma a garantir o tráfego.

Diante desse cenário, as tradings já não descartam a reprogramação de navios com atracagem prevista em Barcarena para Santos, Paranaguá ou Rio Grande. A decisão configuraria um revés para quem acabou de estrear nas águas do Tapajós – e ainda em um ano com previsão de safra recorde.

Samuel da Silva Neto, economista e pesquisador da EsalqLog, disse que, não fossem esses problemas, os portos do Norte já teriam participação muito maior nas exportações brasileiras, porque têm calados mais convidativos aos novos navios, sobretudo em Itaqui, e o trajeto da zona produtora até lá é mais curto. “Com a situação da estrada hoje, o raio de influência do Arco Norte acaba sendo apenas de Sorriso para cima. Abaixo desse município, melhor levar o caminhão por mais quilômetros”.

Para a Conab, o Norte será responsável por escoar de 23,8% das exportações de grãos e derivados em 2017, contra 19% em 2016.

 

Fonte: Valor

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