Bioinseticidas são armas dos produtores contra Helicoverpa

Rose Monnerat
Rose Monnerat: bioinseticidas já são competitivos, mas ainda não têm custo menor que químicos

 

 

Diversos bioinseticidas estão autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e já são comercializados no Brasil para o controle da Helicoverpa armigera. A praga, que foi responsável por perdas bilionárias da safra brasileira no ano passado, continua prejudicando produtores rurais em 2014, com casos significativos ainda encontrados nos Estados de Alagoas, Bahia, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, entre outros.

Líder de projetos e presidente do Portfolio de Controle Biológico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa/Cenargen), a pesquisadora Rose Monnerat comenta que o produtor rural tem procurado monitorar suas lavouras e agir o mais rápido possível, assim que a praga é detectada.

“Os agricultores brasileiros têm empregado ferramentas de controle biológico, como os bioinseticidas à base de vírus e de bacilos, bem como os produtos químicos disponíveis no mercado”, informa.

Em relação aos bioinseticidas com registros já efetivados pelo Mapa – ou seja, que não estão mais cadastrados como emergenciais -, Rose informa que 12 produtos de variadas empresas vêm sendo comercializados no País, contando com a bactéria Bacillus thuringiensis como ingrediente ativo, além de outros três à base de vírus. Segundo ela, há pedidos para novos registros, ainda em análise no Ministério da Agricultura.

“Os custos destes produtos são muito variáveis, de acordo com o regime comercial de cada companhia. Todavia, pode-se dizer que já são competitivos, embora ainda não tenham um custo menor em relação aos químicos”, ressalta.

“No tocante à eficiência, utilizados no momento e de forma correta, (os bioinseticidas) têm correspondido às expectativas dos produtores.”

O bioinseticida utiliza como ingrediente ativo um organismo vivo, normalmente um microorganismo, como fungos, vírus ou bactérias, explica a pesquisadora. Já os inseticidas convencionais são feitos de moléculas químicas.

No combate à Helicoverpa armigera, ela ressalta que dispor de certas ferramentas não significa ter o controle total do problema.

“Para que a praga possa ser controlada e ter seus danos mitigados, também é necessária uma abordagem abrangente, que chamamos de Manejo Integrado de Pragas (MIP), aliado a um eficiente sistema de monitoramento, que deve ser empregado de maneira harmônica”, explica.

“No momento preciso, devem ser empregadas diferentes medidas de controle, de forma a manter os níveis populacionais da praga abaixo do nível de dano econômico”, alerta Rose.

 

Carlos Ramos Venâncio
Carlos Ramos Venâncio: ainda não existem registros definitivos de produtos para controle da praga

 

Coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins do Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (DFIA) do Mapa, Carlos Ramos Venâncio afirma que, hoje, pode-se dizer que o País tem alternativas de controle.

“Mas, para dizer que a praga está sob controle. precisamos acompanhar o comportamento da praga nos próximos anos”, pondera.

PRODUTOS

“Primeiramente, cabe ressaltar que ainda não existem registros definitivos de produtos para controle de Helicoverpa armigera, uma vez que os estudos necessários ainda estão sendo realizados”, informa Venâncio.

Segundo ele, no Ministério da Agricultura há 28 produtos que seriam os “bioinseticidas” (o Mapa prefere não utilizar este termo e, sim, “inseticidas biológicos e microbiológicos”), além de seis feromônios para utilização como atrativo em armadilhas físicas.

“Para o Mapa, os ‘bioinseticidas’ são os inseticidas biológicos e microbiológicos. São bactérias, fungos e vírus desenvolvidos em laboratórios que atacam as pragas para as quais eles foram desenvolvidos. No caso da Helicoverpa, temos produtos à base de baculovírus e Bacillus thuringiensis, que são considerados produtos microbiológicos”, informa Venâncio.

“Além deles, temos os feromônios, que são utilizados como atrativo para uso em armadilhas visando a captura da mariposa da Helicoverpa”, completa.

DIRETOR DA ANDEF CRITICA MOROSIDADE DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS

Diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher afirma que este setor passa por uma crise no País, “em boa parte explicada pela falta de agilidade dos três órgãos que regulamentam a área de defesa vegetal”: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

 

Eduardo Daher, da Andef
Eduardo Daher, da Andef, critica a morosidade da aprovação de novas tecnologias de controle

 

“Existe uma demora para aprovar novas tecnologias para o controle de pragas. Temos como exemplo o ano de 2005, quando estes órgãos analisaram e aprovaram 27 novos produtos. Em 2008, foram apenas 11; e em 2010, as aprovações caíram para três ativos novos. No ano passado, a morosidade atingiu o fundo poço: apenas um único produto chegou às plantações”, enumera Daher.

Conforme cita o diretor-executivo da Andef, dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (ONU/FAO) confirmam que os defensivos agrícolas modernos evitam perdas de 40%, em média, nas lavouras.

“Ou seja, para a safra brasileira deste ano, aguardada em 186 milhões de toneladas, sem a adoção desta tecnologia (de aplicação dos defensivos), não chegariam às mesas dos brasileiros e do mundo cerca de 75 milhões de toneladas de alimentos, além de fontes de energias renováveis”, ressalta.

NOVAS MARCAS DO MERCADO

Ainda registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como produto emergencial – mas logo deve integrar a lista de produtos definitivos para controle da Helicoverpa armigera no País -, o inseticida biológico Diplomata, lançado no mês passado durante a Agrishow 2014, em Ribeirão Preto (SP), é produzido a partir do inseto moído. O produto é importado e distribuído no Brasil pela Koppert Biological Systems, empresa holandesa com sede no Brasil e líder mundial no segmento de controle biológico.

 

Danilo Pedrazzolli
Danilo Pedrazzolli, diretor industrial da Koppert do Brasil

 

“O Diplomata tem como princípio ativo o vírus núcleo – poliédrico Helicoverpa armigera (HaNPV). É feito da proteína do inseto moído somado às partículas do vírus, sem nenhum grau de toxidade para o meio ambiente e para o homem – no caso, porque contém aditivos de grau alimentício. Ou seja, se a pessoa comer não correrá o risco de ser intoxicada”, garante o diretor industrial da Koppert do Brasil, Danilo Pedrazzoli.

Segundo ele, o número de produtos importados da empresa deve atender, inicialmente, entre 1,5 milhão e 2 milhões de hectares, especialmente em lavouras de soja, milho e algodão.

“O Diplomata está cadastrado no Mapa como emergencial e ainda está em fase de registro definitivo no Brasil. Mas, diante da necessidade do mercado, podemos ampliar o fornecimento no País”, informa.

Outras empresas também estão comercializando produtos semelhantes ao bioinseticida Diplomata, tais como: a Ihara, com o inseticida biológico Gemstar; e o HzNPV CCAB, do Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro (CCAB Agro S.A.).

O produto da Ihara foi apresentado como tecnologia de combate à Helicoverpa nas culturas de soja e algodão, durante encontro da Câmara Temática de Agricultura Sustentável do Ministério da Agricultura, no ano passado. Segundo o gerente de projetos da empresa, Rodrigo Naime, trata-se de um bioinseticida à base de baculovírus.

“Quando aplicado, atrai as lagartas que se alimentam desse líquido e se contaminam. Em três dias, elas param de se alimentar e, em sete, morrem. É bastante inovador com uma técnica segura e diferenciada”, explica.

Por equipe SNA/RJ

 

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