Artigo: ‘O verão com La Niña poderá influenciar a próxima safra de café?’

 

Sem efeitos preocupantes em relação ao fenômeno La Niña, atual safra de café em MG deve começar a ser colhida no outono. Foto: Divulgação

Por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro

As condições de temperatura da superfície do Oceano Pacífico indicam que pode estar perto o fim do atual fenômeno La Niña. Para a cafeicultura de Minas Gerais, esse fenômeno, classificado de baixa intensidade, não tem apresentado relevância climática que possa preocupar esta safra, que deverá ter sua colheita iniciada já a partir do próximo outono em algumas regiões.

Conhecida por historicamente apresentar as temperaturas médias mais elevadas ao longo do ano, a estação do verão, em algumas localidades, chega a temperaturas máximas superior aos 30 graus.

Nessa estação do ano podem ocorrer também as chamadas “ondas de calor”, as quais costumam durar de três a sete dias. Nesses episódios, as temperaturas noturnas costumam ser mais elevadas; as temperaturas médias e mínimas alcançam valores acima da média normal do período; e as temperaturas máximas podem até mesmo superar os 40 graus, por alguns momentos, em regiões de menor altitude, mais próximas ao nível médio do mar e da região central do continente.

É no verão que também aumenta o desconforto térmico provocado pela combinação da alta temperatura e a alta umidade do ar. Umidade essa que, após o calor acumulado durante o dia, colabora para as chuvaradas mais comuns no final de tarde, chamadas “chuvas de verão”, que podem ser decorrentes da formação das nuvens cumulus nimbus e acompanhadas pela precipitação de granizo e fortes rajadas de vento.

Algumas vezes elas podem provocar enchentes nas grandes áreas urbanas que se apresentem mal drenadas, e deslizamento de terra nas áreas de encosta de morro urbanizadas com ausência da vegetação, que é proteção natural do solo.

Apesar do Índice de Oscilação do Sul (um dos mais importantes indicadores utilizados para definir as condições ENOS e que é obtido da diferença de pressão atmosférica entre Taiti, na Polinésia Francesa e Darwin, na Austrália) ter permanecido neutro nas últimas semanas, a intensidade dos ventos alísios e a nebulosidade predominante que tem sido registrada no Pacífico Tropical, em torno do equador terrestre, revelam a presença de um evento La Niña de fraca intensidade – quando as temperaturas da superfície do Oceano Pacífico se tornam levemente frias – que tem caracterizado a atual estação de verão.

Considerando os mais recentes registros do acúmulo de água mais aquecida nos níveis abaixo das camadas superficiais do Pacífico, o atual La Niña parece estar perto de alcançar sua intensidade máxima com previsão de término no início do outono, configurando a evolução típica do fenômeno ENOS, no qual os eventos tendem a atingir a máxima intensidade em torno de dezembro ou janeiro com transição para condições neutras, normalmente nos meses de outono.

Um dos principais efeitos na Região Sudeste é a ocorrência de temperaturas mais baixas durante os eventos de La Niña nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Todavia, já houve registro de anos com La Niña com aumento no volume de chuvas na região Sul de Minas.

De acordo com o monitoramento da seção de análise e previsão do tempo – Sepre do 5º Distrito de Meteorologia de Minas Gerais, o mês de dezembro foi marcado por chuvas frequentes no Estado com o volume mensal acumulado variando entre aproximadamente 100 e 350 milímetros chegando, assim, próximo a média histórica, exceto nas áreas do Sul, Zona da Mata e em pontos isolados do Leste e Triângulo Mineiro que, como pode ser visualizado na figura a seguir, apresentaram déficit de precipitação.

Anomalias das chuvas que ocorreram em dezembro de 2017, em Minas Gerais. Fonte: Sepre – 5º Disme-BH/MG

A CAFEICULTURA

No ano passado, houve o atraso do início do período das águas, tendo ocorrido o início da estação chuvosa no final de setembro e início de outubro, e excepcionalmente em algumas regiões de Minas só no início de novembro.

Tal fato contribuiu para a maior concentração da florada do café. Além do atraso do início da estação chuvosa, os últimos anos têm sido marcados pela má distribuição das chuvas ao longo do tempo, contribuindo, assim, para o aumento de ocorrência de abortamento da florada.

No atual período de verão, marcado pela presença do La Niña, as temperaturas atmosféricas têm ocorrido dentro ou pouco acima da média em Minas Gerais, enquanto as chuvas têm ficado um pouco abaixo do esperado para o período. Considerando as atuais condições climáticas, até o presente momento, as plantas estão com bom desenvolvimento, tanto de frutos quanto vegetativo, bem como os novos plantios também estão se desenvolvendo bem.

Nesse período, o monitoramento das lavouras deve ser focado na possibilidade de ocorrência de broca e de ferrugem e, caso necessário, realizar o controle. Mesmo com as atuais condições do La Niña, para o café de Minas ainda está muito cedo para prever se a presença de tal fenômeno poderá influenciar a próxima safra.

Todavia, para a cafeicultura colombiana, o fenômeno La Niña é mais danoso pois é comum a presença desse fenômeno provocar o aumento de nebulosidade naquele país, fato esse que reduz a incidência de radiação direta na lavoura podendo inclusive interferir na floração.

O aumento da nebulosidade também contribui para o aumento no volume de chuvas e, consequentemente, para o aumento da umidade no interior da lavoura, favorecendo a ocorrência de doenças e prejudicando o café cereja ainda na planta, além de também aumentar os problemas associados à secagem no processo de pós-colheita, reduzindo a qualidade final da bebida produzida naquele país.

OS AUTORES

Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/Epamig Sudeste, na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais.

Marcelo Ribeiro é pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) na área de Fitotecnia e também atua em pesquisas sobre a cultura do café.

Fonte: Epamig com edição d’A Lavoura

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