Após sair do ‘Mapa da Fome’, Brasil precisa vencer outros desafios até 2050

Alan Bojanic, representante da FAO: “Nenhum país conseguiu diminuir a fome tão rápido quanto o Brasil”. Fotos: Alf Ribeiro
Alan Bojanic, representante da FAO: “Nenhum país conseguiu diminuir a fome tão rápido quanto o Brasil”. Fotos: Alf Ribeiro

 

“Além de ser um grande produtor de alimentos, o Brasil é também um celeiro de conhecimento que precisamos levar para o campo, para tornar as propriedades produtivas e sustentáveis”. A afirmação foi feita por Alan Bojanic, representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU) para o Brasil, em palestra realizada dia 14 de outubro, em São Paulo, no Fórum Desafio 2050 – Unidos para Alimentar o Planeta (6º Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos). A iniciativa foi da FAO, Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

Na ocasião, Bojanic citou os dados do relatório da FAO, divulgado em setembro deste ano, segundo o qual o Brasil saiu do mapa da subnutrição. “Nenhum país conseguiu diminuir a fome tão rápido quanto o Brasil”, salientou. Ele credita o resultado, principalmente, às políticas sociais implementadas na última década, em especial a de valorização do salário mínimo e da alimentação escolar, que considera uma receita básica de combinação entre incentivo à produção e políticas de proteção social. “Mais de 43 milhões de crianças que recebem alimentação todos os dias.”

Segundo Bojanic, atualmente o Brasil possui 3,4 milhões de pessoas em estado de sub-alimentação, o que equivale a menos de 5% da população. De acordo com o relatório da FAO, a maior parte dos 800 milhões de famintos do mundo está na zona rural e cerca de 70% dos alimentos produzidos no mundo vêm da agricultura familiar.

PROJEÇÃO

Dados da FAO para as próximas décadas projetam que o Brasil será o principal responsável pelo aumento da produção global de alimentos para suprir as necessidades de 9,1 bilhão de pessoas em 2050. Essa meta exige que o País e o mundo aumentem a produtividade, reduzam perdas e desperdícios, abram o comércio mundial e invistam em inovação.

“O Brasil está cumprindo a sua parte e ampliando constantemente a oferta de alimentos, por meio do desenvolvimento e da adoção de tecnologias”, afirmou o Bojanic.

Com cinco milhões de famílias de produtores rurais no País, o representante da FAO destacou a importância da agricultura familiar no crescimento da oferta global de alimentos.

“A agricultura familiar é predominante nos países desenvolvidos e em desenvolvimentos”, destacou o representante da entidade no Brasil.

“Precisamos mudar o padrão de produtividade e renda para o setor com agregação de valor à produção, mais qualidade, liberação do comércio, promover mudanças na dieta e nos padrões de consumo, conservar o ecossistema com menos impacto no ambiente e adotar práticas cooperativistas e associativistas para assegurar mercado”, enumerou.

FUTURO DOS ALIMENTOS

Ao abordar o futuro dos alimentos, Maurício Lopes, presidente da Embrapa, destacou que o contexto da agricultura atual é cada vez mais desafiador, o que exige evolução constante nos conceitos, métodos e ferramentas.

Como conciliar os recursos críticos e alimentar mais gente? Estes são os desafios da agricultura moderna, afirma o presidente da Embrapa, Maurício Lopes
Como conciliar os recursos críticos e alimentar mais gente? Estes são os desafios da agricultura moderna, afirma o presidente da Embrapa, Maurício Lopes

“Precisamos lembrar que a agricultura moderna vai além da produção de alimento e inclui energia, nutrição, saúde, biomassa, o que exige um planejamento sofisticado para ampliar as demandas e as expectativas em relação à multifuncionalidade”, salientou. “Então, como conciliar os recursos críticos (água e energia) e alimentar mais gente? Estes são os desafios da agricultura moderna.”

Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Unicamp e um dos idealizadores do programa Fome Zero, Walter Belik acredita que  o maior desafio do setor é reduzir o desperdício de alimentos, que chega a 30% no mundo.

“Não basta produzir mais, precisamos diminuir as perdas e desperdícios em toda a cadeia da alimentação, da produção ao consumo”, alerta Walter Belik (Unicamp), idealizador do "Fome Zero"
“Não basta produzir mais, precisamos diminuir as perdas e desperdícios em toda a cadeia da alimentação, da produção ao consumo”, alerta Walter Belik (Unicamp), idealizador do “Fome Zero”

“A redução do desperdício pela metade representa 25% das necessidades da demanda futura por alimentos”, pontuou. “Portanto, não basta produzir mais, precisamos diminuir as perdas e os desperdícios em toda a cadeia da alimentação, da produção ao consumo.”

Segundo o embaixador Marcos Azambuja, ex-secretário geral do Itamaraty e coordenador da Rio92, além de um cenário global desafiador em relação aumento da produção de alimentos em 60%, até 2050, há outros entraves para fornecedores como o Brasil.

“As barreiras políticas e pseudo-econômicas são os principais obstáculos e exigem persistência e negociação”, ponderou.  “Temos muita tradição e presença sólida em mercados importantes, mas quando falamos em alimentos somos gigantes e incomodamos”, justificou.

As barreiras políticas e pseudo-econômicas são os principais obstáculos e exigem persistência e negociação, diz o embaixador Marcos Azambuja, ex-secretário geral do Itamaraty
As barreiras políticas e pseudo-econômicas são os principais obstáculos e exigem persistência e negociação, diz o embaixador Marcos Azambuja, ex-secretário geral do Itamaraty

HERÓIS DA REVOLUÇÃO VERDE

Na edição deste ano, o Fórum Desafio 2050 – Unidos para Alimentar o Planeta (6º Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos) homenageou os seguintes “Heróis da Revolução Verde”: os agrônomos Cyro Paulino da Costa, Dirceu Gassen, Glauco Olinger, João Pratagil Pereira de Araújo, Luiz Antônio Barreto de Castro, Moacyr Corsi, Tsai Siu Mui, e Johanna Döbereiner (in memorian), além da nutricionista Fernanda Dias Abadio Finco, o agricultor Manoel Henrique “Nonô” Pereira e o doutor em Geoquímica Ambiental, Renato de Aragão Ribeiro.

Por equipe SNA/SP

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