Aporte em infraestrutura deve cair 19%

Investimentos em infraestrutura devem cair 19% em 2015. O principal motivo é o corte dos gastos públicos, por causa do ajuste fiscal. Foto: Divulgação
Investimentos em infraestrutura devem cair 19% em 2015. O principal motivo é o corte dos gastos públicos, por causa do ajuste fiscal. Foto: Divulgação

Após terem ficado estáveis de 2013 para 2014, os investimentos em infraestrutura deverão tombar 19% neste ano. O principal motivo é o corte dos gastos públicos, por causa do ajuste fiscal. Segundo especialistas, a menos de dez dias do anúncio do novo pacote de concessões do governo federal, a projeção reforça a importância do capital privado para esses investimentos.

Segundo estudo da consultoria Inter.B, a projeção para os aportes em infraestrutura neste ano é de R$ 105,7 bilhões, R$ 25,2 bilhões a menos do que em 2014. Com isso, o investimento no setor cairia para 1,78% do PIB, nível idêntico ao de 2007. Caso o número se confirmar, o País só terá tido resultado pior em 2003, quando o aporte em infraestrutura somou 1,46% do PIB. A série histórica da InterB. foi iniciada em 2001.

Embora diversas empresas do setor sejam atingidas pelas investigações da Operação Lava Jato, o ajuste fiscal é o principal vilão em 2015, diz o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak. “O ajuste pega muito o investimento público”, afirma. A economista Luísa Azevedo, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), explica que os gastos de custeio, muitas vezes obrigatórios, são mais difíceis de cortar.

No primeiro trimestre, o investimento público da União, sem contar estatais, caiu 30%, para R$ 15,6 bilhões, segundo dados compilados pelo economista Mansueto Almeida em seu blog. Como o setor público responde por cerca de metade dos aportes no setor de transporte, ele é o mais afetado, explica Frischtak. No total, a Inter.B projeta queda 20,9% este ano, para R$ 42 bilhões. Em rodovias, o corte pode ser de 26,9%.

Nem o apetite chinês por investimento em logística, sinalizado na recente visita do primeiro-ministro Li Keqiang, pode ser suficiente. Integrante da comitiva, Yu Weiping, vice-presidente da CNR, que fornece trens para o Metrô do Rio, foi reticente quanto a novos investimentos no País. Disse que tudo dependerá de novos projetos. É justamente este o problema, segundo a InterB., já que o investimento em mobilidade urbana deve cair 20,2%.

Outra forma de promover o investimento são as parcerias público-privadas (PPPs), diz Gustavo Gusmão, diretor da área de infraestrutura da consultoria Ernst & Young. O problema, segundo o consultor, é que a contrapartida dos governos nas PPPs também fica ameaçada com o ajuste fiscal. Para ele, novo modelo de concessões será uma sinalização importante sobre a possibilidade de êxito da estratégia de usar a infraestrutura para impulsionar o “pós-ajuste”. “O mercado quer notícias boas, mas quer ver as coisas na mesa.”

As boas notícias precisarão mudar a impressão do Programa de Investimentos em Logística (PIL), lançado em 2012, que não cumpriu o prometido. Desde então, o empresariado vem citando o excesso de interferência do governo e a insegurança jurídica como entraves.

Isso vale também para o setor elétrico, cujo ponto alto de interferência foram as medidas de 2013 para reduzir o custo da energia, que provocaram desequilíbrios – parte delas está sendo revista, contribuindo para o reajuste da conta de luz no início do ano. A projeção da Inter.B é de um recuo de 9,3% no investimento em energia elétrica em 2015, para R$ 34 bilhões.

Custo Brasil. As dificuldades com licenciamentos também são citadas como um problema. A usina Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará, ficou pronta, mas a linha de transmissão para abastecer seus clientes ainda está em construção. A chinesa State Grid e a Copel, responsáveis pela obra que deveria ter sido entregue em abril, dizem ter tido problemas nos licenciamentos e liberações. O novo prazo para entrega é julho. “Como é que você explica (aos investidores) que a Teles Pires fica pronta, mas a linha de transmissão, não?”, disse Solange Ribeiro, presidente da Neogrid, em evento na última quarta-feira, no Rio.

Recursos. A escassez de financiamento e as consequências da operação Lava Jato são dois entraves à meta do governo de priorizar a infraestrutura na agenda “pós-ajuste”. O financiamento ficará mais difícil, pois o governo interrompeu aportes no BNDES.

Isso deverá elevar os juros dos financiamentos às concessões, diz Gustavo Gusmão, da E&Y. O mercado espera que esse custo seja repassado às tarifas. Já a Lava Jato impede que grandes empresas locais participem dos processos de concessão. No entanto, fontes de mercado dizem que o interesse estrangeiro vem crescendo, graças ao dólar mais forte. Um consultor, que pediu anonimato, diz ter sido procurado por três estrangeiros neste ano. No ano passado. não havia sido acionado por ninguém.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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