Amapá usa menos de 10% da sua capacidade agrícola, aponta Embrapa

Gustavo Castro
Pesquisador Gustavo Castro, da Embrapa Amapá, diz que é preciso incentivar novas práticas agrícolas, especialmente para subsistência local. Foto: Dulcivânia Freitas/Embrapa

 

Um Estado com mais de 14 milhões de hectares, sendo um milhão coberto por Cerrado, 300 mil com total aptidão agrícola, porém com apenas 20 mil hectares de área plantada. Isto significa que menos de 10% do total da sua capacidade agropecuária é utilizado por agricultores, especialmente na lavoura de grãos.

Este é um dos resultados analíticos de duas pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Amapá e da Amazônia Oriental (no Pará) que objetivam contribuir com o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Cerrado do Amapá, uma das últimas fronteiras de expansão do agronegócio do País.

Um dos colaboradores da publicação intitulada “Proposta de ocupação e uso agropecuário mais sustentável do Cerrado amapaense: princípios, critérios e indicadores técnicos”, o engenheiro agrônomo e analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Amapá, Gustavo Spadotti Amaral Castro, constata que, apesar de ainda ter muita área a ser ocupada pela agropecuária, a região cresceu muito neste setor nos últimos dois anos.

“Em 2012, o Estado tinha 2 mil hectares de área plantada e colheu em torno de 6 mil toneladas de grãos (entre arroz, feijão, milho e, principalmente, soja). No ano seguinte, a área plantada saltou para 10 mil e, em 2014, devemos fechar com 20 mil hectares cultivados, somando entre 50 mil e 60 mil toneladas de grãos”, informa Castro, que fez o levantamento em parceria com o colega de Embrapa e também pesquisador Luiz Wagner Rodrigues Alves .

 

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Cerrado amapaense tem um milhão de hectares. Foto: Dulcivânia Freitas/Embrapa

 

Juntamente com a primeira, a segunda publicação, “Mapeamento de Solos e Aptidão Agrícola do Cerrado do Amapá”, produzida pelo pesquisador Adriano Venturieri, chefe geral da Embrapa Amazônia Oriental, será apresentada ao governador do Amapá no próximo dia 21 de julho.

De acordo com Castro, além de fazer o estudo sobre as áreas aptas para o agronegócio no Amapá, as pesquisas também vão servir para elaborar planos estratégicos do Executivo, principalmente no que diz respeito à insegurança alimentar.

“O Amapá é praticamente uma ilha ligada ao Brasil por via aérea e fluvial. Quando um barco com itens importantes à população não chega, por causa de um imprevisto qualquer, o Estado corre o risco de ficar sem produtos fundamentais para a sobrevivência de seus moradores. Por isso, precisamos incentivar as novas práticas agrícolas, especialmente para a subsistência local”, ressalta.

Até por vivência no dia a dia no Amapá, o pesquisador constata que os produtores rurais também têm outras dificuldades, como comprar insumos para a lavoura e a insegurança jurídica no que diz respeito à legalização de propriedades rurais.

“Muitas terras ainda não foram repassadas pela União ao Estado e os agricultores têm problemas na hora de buscar, por exemplo, financiamentos para investir nas lavouras. Estes são alguns entraves do Amapá que emperram mais investimentos no agronegócio.”

 

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Produtores rurais durante encontro sobre Cerrado amapaense. Foto: Dulcivânia Freitas

 

NOVO PORTO

No que diz respeito ao agro, embora tenha muito a progredir, Castro acredita que o setor passará por um “boom” de crescimento no Estado nos próximos anos, principalmente por causa das novas operações do Porto de Santana (antigo Porto de Macapá), localizado no município de mesmo nome, próximo à capital Macapá.

“O Porto de Santana será utilizado pela primeira vez para exportação neste ano, escoando a produção agrícola do norte do País e do norte do Estado de Mato Grosso, por exemplo. Trata-se de um espaço público de direito privado, que trará crescimento para o Amapá”, afirma.

A construção do Porto de Santana começou em 1980, com o objetivo original de atender a movimentação de mercadorias por via fluvial, transportadas para o Amapá e para a Ilha de Marajó. No entanto, com o passar das décadas, foi observada que sua posição geográfica é bastante privilegiada, pois se conecta com portos de outros continentes, além de estar mais próximo, em comparação aos demais portos brasileiros, do Caribe, Estados Unidos e União Europeia. Ainda serve de porta de entrada e de saída da região amazônica.

Sua área de influência compreende o Estado do Amapá e toda a bacia amazônica e seus principais portos: Porto de Trombeta, Porto de Munguba, Porto de Santarém, Porto de Itacoatiara, Porto de Manaus, Porto de Porto Velho e de Itaituba, e os municípios paraenses de Afuá e Chaves (situados na foz do Rio Amazonas, a noroeste da Ilha de Marajó).

 

CERRADO AMAPAENSE

As pesquisas da Embrapa também revelaram que as áreas do Cerrado amapaense correspondem a 6,9% de todo o território daquela região. Conforme os estudos, a área da rodovia BR-156, que liga a capital Macapá ao município de Oiapoque, é cercada pelo bioma Cerrado.

O referido espaço está totalmente fora da abrangência dos 72% de área protegida do Estado do Amapá (Unidades de Conservação ou Área indígena). A pesquisa ainda aponta que, em relação aos produtores de grãos do Cerrado do Amapá, 60% vieram da região Sul e 53% do Centro-Oeste.

Segundo o pesquisador Gustavo Castro, diferentemente do Cerrado do Centro-Oeste, o do Amapá conta com solos menos férteis, com vários pontos de erosão de nutrientes da terra e um pouco mais pobres.

“Apesar disso, temos nove meses de chuvas bem regulares, que vão de dezembro a agosto, e somente três de estiagem. Enquanto no Centro-Oeste os produtores plantam uma safra de soja e talvez seguida por uma de milho, em um ano, na região do Cerrado amapaense é possível ter três safras seguidas: de soja, milho e feijão”, garante o engenheiro agrônomo.

“As pesquisas da Embrapa também preveem o uso sustentável dos solos do Cerrado e a promoção da inclusão social, especialmente em áreas quilombolas e de assentamentos”, garante.

De acordo com ele, a partir de agora, a Embrapa Amapá deve investir em pesquisas que vão auxiliar os produtores rurais. A intenção é buscar a diversificação de produtos e, consequentemente, obter melhores ganhos com a produtividade.

“Faremos adaptações de materiais genéticos para a soja e o milho. Mas escolher entre grãos transgênicos e convencionais ficará a cargo do agricultor, depois de obter todas as informações necessárias. A princípio devemos focar mais nos estudos com o milho, que possui menor produtividade atualmente, por causa da baixa altitude do Estado”, ressalta.

 

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Cerrado amapaense tem aptidão agrícola satisfatória. Foto: Dulcivânia Freitas/Embrapa

 

ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO

O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Cerrado do Amapá é um estudo que define a vocação econômica de toda a sua área. Ele servirá de instrumento para licenciamentos e investimentos do governo do Estado, dos produtores, dos órgãos de pesquisas e de outros segmentos da cadeia produtiva. Para ter força de lei, segundo a Embrapa, é necessário que o Poder Executivo estadual envie o levantamento à Assembleia Legislativa.

O ZEE contou com um grupo de trabalho, coordenado pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Setec) e pelo Instituto Estadual de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), com participação dos seguintes órgãos: Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Mineração (Seicom), Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR), Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial (Imap), Instituto Estadual de Florestas (IEF), Embrapa Amapá e Embrapa Amazônia Oriental (Pará).

 

Por equipe SNA/RJ

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