Alto custo de produção é um dos desafios do setor de arroz, que aposta nas exportações em 2015

Henrique Osorio Dornelles, presidente da Federarroz: “O Brasil tem o arroz em casca mais caro do mundo, devido aos custos de produção, mas ao consumidor é o mais barato”. Crédito: Divulgação
Henrique Osorio Dornelles, presidente da Federarroz: “O Brasil tem o arroz em casca mais caro do mundo, devido aos custos de produção, mas ao consumidor é o mais barato”. Crédito: Divulgação

“Com altíssimos custos de produção e clima desfavorável (baixa luminosidade e chuvas em excesso, em determinadas regiões), o cenário atual inspira cautela e exigirá dos produtores de arroz maior capacidade de negociação na busca de melhores preços.” A análise é de Henrique Osorio Dornelles, presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

Ele destaca, no entanto, alguns pontos positivos: “Os baixos estoques, tanto privado como público, que deverão dar ao setor produtivo certa vantagem. Além disso, nas exportações há certo otimismo, principalmente na consolidação de mercados de qualidade, de maior remuneração, como o Oriente Médio”.

Embora o cenário para exportações seja positivo, Dornelles faz algumas ressalvas. “No comércio exterior somos totalmente amadores. Nossa atuação com acordos bilaterais é digna de regime de governo comunista, e isto está prejudicando a agricultura brasileira, especialmente o arroz, pois estamos competindo com países que subsidiam a produção, como Tailândia, Índia e Vietnã”, argumenta.

Ele lembra que, embora os EUA produzam arroz de qualidade muito inferior ao brasileiro, o país é um grande player, especificamente devido à atuação comercial e à diplomacia.

Outro desafio, na visão do presidente da Federarroz, é que o Brasil tem o arroz em casca mais caro do mundo, devido aos custos de produção, mas ao consumidor é o mais barato. “Algo está errado”, avalia.

SAFRA 2014/2015

De acordo com levantamento divulgado dia 9 de janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de arroz 2014/2015 deverá ser um pouco maior que a anterior, mas os estoques estão mais baixos, o que deixa a disponibilidade interna estável.

A produção deverá alcançar 12,197 mil toneladas, crescimento de 0,6% em relação à temporada anterior. Esse aumento é creditado à expectativa de maior produtividade, pois a área semeada deverá ser 0,8% inferior ao ciclo passado. O plantio está estimado em 2,354 milhões de hectares, ante 2.371 milhões de hectares na safra anterior.

No Rio Grande do Sul, a área cultivada com arroz na safra está prevista em 1,119 milhão de hectares, 0,1% abaixo da cultivada na safra anterior. Atualmente, os gaúchos produzem 65% do total do arroz cultivado em todo o País.

Segundo a Conab, a demanda deve permanecer aquecida, principalmente a externa, em função do dólar valorizado. Apenas alterações climáticas, que afetem a produtividade, especialmente no Rio Grande do Sul, ou choques da exportação, do lado da demanda, podem elevar ainda mais as cotações internas.

Análise divulgada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), dia 7 deste mês, revela que, em 2015, o mercado de arroz não deve manter a tendência de preços firmes e em altos, como ocorreu no ano passado.

ABERTURA DA COLHEITA

De 5 a 7 de fevereiro, a Federarroz promoverá, no município de Tapes  (RS), a 25ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, um dos maiores eventos do setor orizícola do Estado e do Mercosul, onde serão apresentadas novas tecnologias de produção, insumos e equipamentos.

Na ocasião, será colhida a variedade Irga 428, semeada no local, a partir de setembro, em sistema de cultivo pré-germinado. A 428 e tem produtividade de 10 a 12 mil quilos por hectare e é considerada ideal para utilização em lavouras com incidência de arroz vermelho, já que é resistente ao herbicida utilizado no combate à invasora.

Uma das novidades da abertura da colheita é a presença de um importante pesquisador e analista de mercado de renome internacional para avaliar a atuação brasileira no comércio exterior. “Realmente, sinto que temos um potencial comparativo muito grande sobre nossos concorrentes, mas não estamos explorando”, justifica Dornelles.

Ele acrescenta que, respeitando o tema do evento, a Federarroz apresentará ao setor produtivo uma pesquisa sobre custos de produção regionalizado. “Trata-se de um problema crescente na cultura orizícola, que vem corroendo a renda do agricultor, mesmo com preços do arroz em casca acima da média histórica”, reclama.

CRÍTICAS

“Enquanto o mundo enxerga a produção do Brasil como um sucesso, do ponto de vista social, somos um verdadeiro fracasso. A pressão por escala é um movimento que vem se acentuando, empurrando as pessoas para os grandes centros, enquanto o atual governo federal segrega pequenos e grandes produtores sobre o pretexto da necessidade de políticas diferenciadas”, critica.

“Nós, os produtores, sempre seguimos o nosso caminho, com ou sem governo. Os americanos ficam verdadeiramente surpresos ao constatar que, mesmo com todos os nossos problemas de infraestrutura, falta de portos e estradas, conseguimos manter nossa competitividade”, ressalta.

Ele ainda acrescenta que a teimosia está no sangue do produtor rural, especialmente o arrozeiro. “Vamos teimando, na esperança que um dia teremos o reconhecimento, sob políticas públicas coerentes, que realmente promovam a competitividade e a renda no campo”, diz.

Por equipe SNA/SP

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