Alta de impostos sobre combustíveis pode afetar setor de grãos em R$ 1,4 bilhão

“O aumento (de impostos sobre combustíveis) afetará diretamente o custo de produção, tendo em vista que as atividades agropecuárias consomem volumes muito grandes de combustíveis para o preparo do solo, plantio, tratos, manejo, colheita e fretes internos”, explica o economista da Farsul Antônio da Luz. Foto: Divulgação

O aumento de impostos sobre os combustíveis terá um impacto direto na produção brasileira de grãos. É o que aponta um levantamento elaborado pela Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

“Ao todo, a produção de grãos pagará quase R$ 1,4 bilhão a mais na safra de 2018”, prevê o economista da instituição Antônio da Luz.

Segundo o economista da Farsul Antônio da Luz, o impacto do aumento dos combustíveis, que estará parado na Justiça (até o fechamento desta reportagem, às 18h37, de 26 de julho de 2017), também incidirá direta e indiretamente sobre o setor agropecuário.

“O aumento afetará diretamente o custo de produção, tendo em vista que as atividades agropecuárias consomem volumes muito grandes de combustíveis para o preparo do solo, plantio, tratos, manejo, colheita e fretes internos”, alerta o especialista.

Já de forma indireta, ele diz que o impacto se dará pelo aumento do frete na compra de insumos e na comercialização dos produtos.

De acordo com Da Luz, em valores relativos, por hectare, o arroz será a cultura mais prejudicada, pois é irrigado e as máquinas trabalham em um ambiente que exige maior consumo de combustíveis. “Calculamos um acréscimo de 51 reais no custo de produção, por hectare.”

O economista acrescenta que a soja é outra cultura que sofrerá com o impacto no aumento dos combustíveis, já que ocupa a maior área plantada dentre os grãos.

“Pelo tamanho da área em todo o Brasil, a soja contribuirá com quase 60% da arrecadação dos impostos”, calcula.

Da Luz observa ainda que não há atividade econômica que não utilize combustíveis direta ou indiretamente: “Geralmente se utiliza de ambas as formas. Os grãos, a produção de cana, frutas, verduras, e a atividade pecuária enfim, todos os segmentos da agricultura serão afetados”.

 

EXPECTATIVA

Para o especialista, a expectativa é de um aperto nas margens ainda maior, tendo em vista que esse aumento de impostos sobre combustíveis, “além de absurdo, na opinião dele, é também inoportuno”.

“Nosso índice de inflação dos preços recebidos pelos produtores rurais (IIPR) mostra uma deflação de 24,1% no acumulado de 12 meses, ou seja, os produtores estão com preços quase um quarto mais baixos do que há um ano. Apesar do aumento de produção, houve queda de receita, já que os preços caíram mais do que o aumento de produtividade.”

 

OUTRO VIÉS

Na opinião do vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Hélio Sirimarco, há outro viés relacionado a esse aumento e que, a princípio, esses impactos não seriam tão relevantes.

“Independentemente do aumento dos combustíveis, os preços para transportar grãos pelo Brasil tendem a atingir, entre julho e setembro, níveis recordes para o período, próximos dos praticados em janeiro e fevereiro, durante a colheita de verão”, prevê.

 

“Independente do aumento dos combustíveis, os preços para transportar grãos pelo Brasil tendem a atingir, entre julho e setembro, níveis recordes para o período, próximos dos praticados em janeiro e fevereiro, durante a colheita de verão”, afirma o vice-presidente da SNA Hélio Sirimarco. Foto: Arquivo SNA

Para ele, isso ocorre em função da safrinha recorde de milho, que terá de ser transportada tanto para armazéns espalhados pelo País quanto para os portos.

Segundo Sirimarco, os fretes também deverão continuar mais elevados do que no ano passado, no período entre setembro e novembro, devido à concorrência com o transporte de açúcar.

Ele explica que os valores cobrados pelos transportadores só não serão mais altos porque a entrega de fertilizantes e defensivos deverá coincidir com o escoamento da safra, permitindo o frete de retorno, que reduz custos.

Diferentemente do que ocorreu em 2016, a expectativa, segundo o vice-presidente da SNA, é de que a importação de fertilizantes aconteça mais perto do início do plantio da soja da safra 2017/18, em setembro.

Para ele, esse possível aumento também não vai impactar a próxima safra de soja, que começará a ser plantada em Mato Grosso, em setembro. Sirimarco diz que a estimativa de uma maior demanda por soja é um dos fatores que fará o produtor plantar mais soja na safra 2017/18, mas não o único.

“Os atuais níveis de preços da commodity, mais remuneradores quando comparados aos do milho, principalmente, também contribuem para a decisão”, avalia.

Ele acredita que o menor valor estimado para custeio da produção é outro estímulo. “O IMEA (Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária) estima custos 6,6% menores para produzir soja em Mato Grosso no ciclo 2017/18 em relação à safra anterior”, cita.

Ele acrescenta que, no Estado, considerando os preços atuais da soja, a receita bruta com a cultura supera os custos estimados da lavoura em 64%, segundo a Safras & Mercado. “No caso do milho, a receita é só 19% maior do que o custo”.

 

O QUE DIZ O GOVERNO

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista concedida nesta quarta-feira, 26 de julho, em São Paulo, informou que, caso a decisão da Justiça Federal de Brasília, que revogou o aumento do imposto PIS/Confins dos combustíveis, não seja revertida, “o governo terá de aumentar outros tributos”.

 

 

Por equipe SNA/SP

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