Ainda pouco valorizada, equideocultura movimenta R$ 13 bi por ano no Brasil

 

 Flavio Obino Filho, da Câmara Temática de Equideocultura:
Flavio Obino Filho, da Câmara Setorial de Equideocultura: ‘Em nosso país, a cadeia do cavalo supera a indústria automobilística’

 

A equideocultura – que envolve a criação de equinos (cavalos), asininos (asnos, burros e jumentos) e muares (mulas) – movimenta em torno de R$ 13 bilhões por ano no País, sem considerar as apostas feitas em cavalos de corrida. São R$ 7,78 bilhões referentes aos chamados animais “de lida” e o restante aos cavalos de raça. No Brasil, somente o setor de criação de equinos é responsável pela geração de 800 mil empregos diretos e 3,5 milhões indiretos.

A informação é de Flávio Obino Filho, presidente da Câmara Setorial de Equideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com base nos dados mais recentes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP), que o portal da SNA divulga em primeira mão.

Ao todo, a tropa do País já deve ter ultrapassado a marca dos 7,2 milhões de equídeos, conforme destaca o professor e coordenador do grupo Equonomia da Esalq/USP, Roberto Arruda de Souza Lima. Ele considera o levantamento da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Em média, o País tem 5 milhões de cavalos; e ainda 1.221.000 de muares e 902.716 asininos”, cita.

De acordo com Arruda, os resultados da PPM, embora superestimados, são os mais próximos da realidade, se comparados com o Censo Agropecuário, também do IBGE.

“Os pesquisadores do Censo, geralmente, não vão aos jóqueis e haras que estão nas áreas urbanas nem contabilizam os animais que circulam pela cidade”, ressalta.

Para que o setor cresça ainda mais e tenha a merecida visibilidade, o presidente da Câmara de Equideocultura do Mapa sugere mais incentivo por parte do governo federal.

“No Uruguai, por exemplo, essa é uma das áreas da agropecuária mais incentivada, principalmente no que diz respeito à exportação e importação de matrizes. No Brasil, há um afastamento desse setor da pecuária”, critica Obino Filho.

Isto se deve, segundo ele, ao fato de a equideocultura ainda estar muito ligada, no imaginário da sociedade em geral, ao lazer, ao hobby e não a um negócio como outro qualquer, que emprega muitos trabalhadores.

PRECONCEITO

“Em nosso país, a cadeia do cavalo supera a indústria automobilística, até porque o que move o setor da equideocultura é, geralmente, o pequeno produtor. Ele precisa desses animais para exercer suas atividades agrícolas, especialmente para o transporte”, ressalta o presidente.

“Já soube de pessoas que tiveram o crédito rural negado por querer investir em cavalos. Ouviu que isto era supérfluo, para ricos, o que não era verdade. A equideocultura ainda é vista com muito preconceito, porque remete à nossa linha histórica, na qual os senhores de engenho andavam a cavalo e os escravos, a pé”, lembra o professor.

 

Professor Roberto Arruda
Roberto Arruda, da Esalq/USP: ‘Já soube de pessoas que tiveram o crédito rural negado por querer investir em cavalos’

 

 

“Isto, hoje, está fora da realidade. Muitos pequenos produtores não têm dinheiro para investir em máquinas agrícolas modernas, mas são eles que sustentam boa parte da agropecuária do nosso país, precisam dos equídeos para uma série de atividades no campo. E isto não tem nada de elitizado. É uma realidade do Brasil, que é visto como antiga, ultrapassada, mas não é verdade”, diz o coordenador da Esalq/USP.

De acordo com ele, até o final dos anos 1990, criar cavalos “era coisa de elite”.

“Depois, a criação deste tipo de animal ficou manchada por causa do uso de leilões para lavagem de dinheiro de empresários.”

POLÍTICAS PÚBLICAS

No entendimento do presidente da Câmara de Equideocultura do Mapa, é importante que o governo federal dê mais atenção ao setor.

“Atualmente, não podemos exportar nossos animais para a Europa, por causa da doença do mormo (leia abaixo), já identificada em vários Estados brasileiros e que assombra os produtores. Por isso, precisamos melhorar o tratamento, especialmente em relação às questões sanitárias”, ressalta.

Roberto Arruda de Souza Lima concorda e compara: “O carro de Fórmula 1 não é para todos, mas ele puxa a indústria automobilística e o consumidor normal não ganha dinheiro com o carro; e poucos ganham dinheiro com equideos, no entanto, eles movem, literalmente, a agropecuária.”

Para Flávio Obino Filho, é necessário também criar políticas tributárias, principalmente no que diz respeito ao transporte de equídeos pelo País.

“É importante que o trânsito destes animais seja mais facilitado, sem perder o controle, obviamente, na sanidade dos equideos. É fundamental dar mais velocidade à liberação do seu transporte, porque é arriscado, até para a saúde dos animais, que eles permaneçam dois, três dias parados nos postos de fiscalização rodoviários.”

MORMO

Em algumas regiões do Brasil, o mormo – também conhecido como “catarro de burro”,  “farcinose”, “lamparão”, “mal de mormo” , entre outras  nomenclaturas populares – é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria, que ataca principalmente os equídeos e pode acometer o homem, os carnívoros e, mais raramente, os pequenos ruminantes. Tem como agente etiológico a Burkholderia mallei – bacilo gran-negativo.

Os sinais clínicos mais comuns são corrimento nasal, febre, emagrecimento, tosse e lesões na pele no início nodulares, mas que podem evoluir para úlceras e, depois disso, formam lesões nos animais em formato de estrela.

Por equipe SNA/RJ

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