Agronegócio é importante para induzir crescimento em outros setores, diz economista

O agronegócio “já se descolou da crise e do que acontece em outras áreas, e tem sido importante para induzir crescimento em setores como o de máquinas, por exemplo”, diz o economista Cláudio Contador, da Escola Nacional de Seguros. Foto: Divulgação SNA

“A economia brasileira apresenta baixo crescimento. No entanto, já saímos da área negativa do PIB em queda”. A afirmação é do economista Cláudio Contador, diretor executivo da Silcon Estudos Econômicos e do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES) da Escola Nacional de Seguros.

Em declaração à equipe SNA/RJ, Contador diz que o agronegócio “já se descolou da crise e do que acontece em outras áreas, e tem sido importante para induzir crescimento em setores como o de máquinas, por exemplo”.

Ele ainda destaca que “toda a renda advinda do agro vai para o comércio e a indústria e que o setor assume atualmente posição de liderança”.

Na terça-feira, 11 de junho, Contador participou de uma reunião do Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), ocasião em que mostrou estatísticas recentes referentes a vários setores da economia nacional.

 

RECUPERAÇÃO ECONÔMICA E REFORMAS

Em seu relatório de junho de 2017, o economista chamou a atenção para o fato de que “as notícias de corrupção e de envolvimento de políticos e de grandes empresas em irregularidades derrubaram as esperanças de recuperação econômica e esvaziaram o apoio às reformas”.

Em relação ao setor privado, o documento da Silcon registra que “as incertezas cresceram e esvaziaram a confiança dos consumidores e empresários”. No entanto, “os indicadores antecedentes ainda garantem no curto prazo a melhoria das atividades dos setores examinados, que irá ocorrer com intensidade mais branda”, aponta o relatório.

Com base em outros estudos econômicos, o economista Roberto Castello Branco lembrou, durante a reunião do Conselho, que “as reformas econômicas tendem a acontecer em períodos de recessão e de alto risco de desemprego. Segundo ele, “o Brasil tem uma capacidade excepcional de fazer reformas, e isso gera otimismo”.

 

PRODUTO INTERNO BRUTO

O relatório apresentado por Contador ressalta que as contas nacionais para o primeiro trimestre de 2017 “mostraram alívio e sugerem que a parte mais severa da recessão terminou”. O crescimento do PIB em relação ao trimestre anterior foi de 1 %, mas ainda se mantém negativo na comparação com o mesmo trimestre de 2016, com -0,4 %, e no acumulado em quatro períodos, com -2,3 %.

Segundo a Silcon, na ótica da oferta, a agropecuária tem destaque especial, com expansão de 13,4 % contra o trimestre anterior, 15,2 % sobre o mesmo período de 2016, e 0,3 % no acumulado em quatro trimestres”.

Nos demais setores, a indústria cresceu apenas 0,9 % e os serviços ficaram estagnados. E pela ótica da demanda apenas – aponta o relatório – o comércio externo teve taxas positivas. Já nos demais itens da demanda, a variação foi negativa, com o alerta da queda mais acentuada da formação bruta de capital fixo.

Analistas acreditam que a atualização do indicador antecedente composto, com avanço estatístico médio de três trimestres, reforça a previsão de que a fase de maior queda já terminou, e a economia ingressa num período de taxas menos negativas, podendo atingir 0,7 em 2017.

“Poderia ser melhor se a crise política e as reformas travadas não atrapalhassem. A redução da taxa de juros é um fator importante para o ritmo da atividade econômica em 2017, mas não pode fazer milagres”, conclui o relatório apresentado por Contador.

 

CONSUMO

Entre vários dados, o economista apresentou índices relativos ao consumo das famílias. Segundo ele, desde 2015, o consumo privado deixou de ser um dos pilares na sustentação da atividade econômica e fechou o ano com queda de quase 4 %. Em 2016, a retração atingiu 4,2 %, e no primeiro trimestre de 2017, a queda havia retrocedido para 3,3 %.

A deterioração do mercado de trabalho, tanto no nível de emprego, como nos salários reais; a oferta de crédito em condições menos favoráveis; a perda da confiança nas condições futuras e a inadimplência ainda alta, mas decrescente, explicam o quadro desanimador no consumo familiar.

“O indicador antecedente composto sinaliza que a retração perdura até o final de 2017, embora em ritmo gradual menos intenso. A partir do primeiro trimestre de 2018, as taxas de crescimento se tornam positivas, mas ainda com ritmo lento”, prevê o relatório da Silcon.

 

VEÍCULOS NO MERCADO DOMÉSTICO

Em relação às vendas totais de veículos no mercado doméstico, o cenário está bem diferente dos anos de alta (2012 e 2013). Os dados de abril passado mostram pequeno alento. O licenciamento de automóveis (nacionais e importados) foi de 703 mil no acumulado em 12 meses, contra os 2,8 milhões de 2012.

Na comparação com anos anteriores, a retração é generalizada em todos os tipos de veículos. No caso das máquinas agrícolas, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o licenciamento de veículos em 2012 alcançava 70 mil unidades, e em abril de 2017 esse número baixou para 24 mil unidades.

O relatório completo da Silcon pode ser consultado aqui.

 

HOMENAGEM

A apresentação de Cláudio Contador na SNA foi precedida por uma pequena homenagem do coordenador do encontro, Rubens Novaes, ao economista Ralph Zerkowski, um dos membros do Conselho de Economia, que faleceu em junho deste ano, aos 80 anos.

“Ralph se notabilizou entre os economistas brasileiros por ter sido o responsável por muitos anos pela estimativa do PIB no Brasil. Na época do Ralph, o PIB brasileiro, durante dez anos, cresceu de 10% a 13%. Depois disso, nunca mais o Brasil cresceu com taxas tão relevantes”, destacou Novaes.

Ainda durante a reunião do Conselho foram debatidos assuntos referentes ao possível aumento do custo de energia a partir da privatização de usinas hidrelétricas no país, além de aspectos das relações comerciais entre Brasil e China.

Também estiveram presentes, na mesma ocasião,  o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Alvarenga; os vice-presidentes da SNA Hélio Sirimarco e Tito Ryff; os diretores da instituição Francisco Villela, Marcio Sette Fortes, Rony Oliveira, Sérgio Malta, Paulo Protásio e Tulio Arvelo Duran.

Os economistas Antonio Meirelles, Helio Portocarrero, Ney Brito, Paulo de Tarso Medeiros, Roberto Fendt, Sérgio Gabizo, Rubem Penha Cisne e Thomas Tosta de Sá, e Natália Oliveira, da Escola Nacional de Seguros, também participaram da reunião.

 

Por equipe SNA/RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp