Açúcar deve avançar em detrimento do etanol

Que a próxima safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil será menor que a atual, e que o etanol será o produto que mais vai perder espaço nas usinas são afirmações quase consensuais entre analistas e executivos do setor. O que não é consenso, porém, é se a produção de açúcar nas indústrias vai perder com a menor quantidade de matéria-prima agrícola ou se seu crescimento está garantido com um “mix” menos alcooleiro.

De seis projeções feitas por consultorias e bancos nos últimos dois meses e compiladas pelo Valor, quatro apontam para um aumento da produção de açúcar, mesmo com redução da colheita e da moagem de cana na safra 2017/18. O que deve sustentar esse avanço é a valorização dos preços internacionais da commodity, ainda que recentemente tenha havido recuo. De janeiro deste ano até ontem, os preços do açúcar na bolsa de Nova York subiram 21,05%. As outras duas consultorias avaliam que essa produção sofrerá uma queda em relação à temporada atual, embora em uma proporção menor que a diminuição da produção de etanol.

 

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O cenário mais açucareiro apresentado até o momento é o da Datagro. A consultoria divulgou duas projeções: uma mais otimista e outra mais pessimista. Em seu melhor cenário, as usinas do Centro-Sul produzirão 36.4 milhões de toneladas de açúcar, e no pior, 36.1 milhões de toneladas. Tomando como referência a produção de 34.1 milhões de toneladas nesta temporada, as estimativas indicam que a produção deve crescer no mínimo 5,9% e no máximo, 6,7%.

Quando divulgou as projeções, em outubro, Plinio Nastari, presidente da Datagro, ressaltou que os investimentos realizados neste ano para aumentar o potencial de direcionamento do caldo de cana para a produção de açúcar nas usinas permitirão esse aumento de produção. Em sua avaliação, os aportes feitos devem aumentar a capacidade de oferta da região em dois milhões de toneladas.

Também estão apostando em aumento da produção de açúcar na próxima safra a consultoria FCStone e o banco Pine. Ambos projetam uma produção de 35.7 milhões de toneladas, o que representaria um aumento de 1,4% para a consultoria e de 0,9% para a instituição financeira. Segundo a FCStone, esse avanço deverá ser garantido pela destinação de uma parcela do caldo de cana para a produção de açúcar ainda maior que o da safra atual. Ou seja, a safra 2017/18 deverá ser ainda mais “açucareira”.

Essa avaliação é compartilhada pelo banco Pine, para quem os pequenos investimentos feitos neste ano nas fábricas de açúcar permitirão uma migração maior do caldo para a produção do adoçante. Em seus cálculos, já nesta safra houve utilização máxima da capacidade de cristalização de açúcar nas usinas do Centro-Sul, de 203 mil toneladas por dia, e os novos aportes elevarão essa capacidade na próxima safra para 208 mil toneladas diárias. O banco estima ainda um aumento do rendimento industrial da cana e avalia que a quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR) deve subir 1,3%, para 135 quilos por tonelada de cana.

Do lado dos pessimistas estão a trading francesa Sucden e a consultoria S&P Global Platts. Também são de ambas as piores projeções para a safra de cana – abaixo de 590 milhões de toneladas. Essa linha de estimativa considera que a falta de investimentos em renovação dos canaviais neste ano, resultado da prioridade que as usinas deram para o saneamento de sua situação financeira, cobrará um preço alto nos resultados operacionais da próxima temporada.

O pior cenário é o traçado pela comercializadora francesa, que acredita que a produção de açúcar na safra 2017/18 será de 34.4 milhões de toneladas. Em seus cálculos, isso representaria diminuição de 2,1% em relação a produção do ciclo atual. Ainda assim, é uma redução menor que a esperada para a moagem de cana, que deve recuar 4,38% para 567 milhões de toneladas, segundo a Sucden.

No horizonte da Platts, a produção de açúcar deve totalizar 34.7 milhões de toneladas no próximo ciclo, representando redução de 2,7%. A diminuição do processamento de matéria-prima também é visto como principal fator de pressão, dado que a expectativa é de que sejam moídas 582 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 4,6% a menos do que nesta safra.

 

Fonte: Valor Econômico

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