Abastecimento de milho ainda preocupa setor produtivo, diz Cesário Ramalho

“Precisamos produzir mais milho, sem reduzir a produção de soja, afinal, temos muitas áreas a serem exploradas, de pecuária, principalmente, no Brasil inteiro”, diz o vice-presidente da Abramilho, Cesario Ramanho. Foto: Renato Scardoelli/Divulgação Abramilho
“Precisamos produzir mais milho, sem reduzir a produção de soja, afinal, temos muitas áreas a serem exploradas, de pecuária, principalmente, no Brasil inteiro”, diz o vice-presidente da Abramilho, Cesario Ramanho. Foto: Renato Scardoelli/Divulgação Abramilho

O Brasil continua enfrentando uma crise de abastecimento de milho causada, principalmente, por problemas climáticos. Soma-se a isto o fato de o Brasil produzir uma tonelada do cereal para cada uma e meia tonelada de soja.

“Essa relação nos preocupa bastante, porque o consumo de proteína animal cresce assustadoramente, com destaque para a Ásia, demandando 70% de milho e 30% de soja para produzir a ração destes animais”, analisa Cesário Ramalho, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e presidente do Conselho do Global Agribusiness Forum (GAF).

Ele comenta que o País tornou-se um grande exportador mundial de milho, e de carnes bovina, suína e de frango, além de soja: “Precisamos produzir mais milho, sem reduzir a produção de soja, afinal, temos muitas áreas a serem exploradas, de pecuária, principalmente, no Brasil inteiro”.

Segundo Ramalho, o Brasil deve conquistar novas terras e plantar mais milho, “pois não temos produção suficiente para atender à demanda mundial e acompanhar o crescimento demográfico da população, em especial o aumento da classe média”.

Para o vice-presidente da Abramilho, de uma previsão inicial de 82 milhões de toneladas, na safra 2015/16, o País deverá produzir 78 milhões de toneladas, sendo que mais de 30 milhões serão exportadas.

 

ABERTOS PARA EXPORTAR

“Precisamos estar abertos para exportar, afinal de contas, temos clientes. Isto porque o milho brasileiro está valorizado e, sob o ponto de vista técnico, da qualidade, é muito melhor que o milho norte-americano. O nosso é mais consistente, mais duro, tem maior rendimento e melhor retorno”, pontua Ramalho, salientando ainda que o Brasil abriu mais espaço no mercado de frango, devido à gripe aviária nos Estados Unidos.

“De acordo com previsões, na safra 2016/17, a produção brasileira de milho deverá ficar perto de 100 milhões de toneladas, o que é um grande incremento, mas tudo depende dos fatores climáticos”, pondera.

Apesar do otimismo, ele diz que, “por enquanto, estamos passando por uma crise; os preços do frango e do milho ficaram mais caros”. E acrescenta: para atender à demanda ascendente, a solução é produzir mais, “para diminuir este estresse”.

 

ALERTA PARA AGROINDÚSTRIAS

No entendimento de Ramalho, por ora, o milho continuará caro, pois há muita demanda e pouca oferta, e também “porque o mercado brasileiro e as grandes empresas como BRFoods, JBS, entre outras, ainda não se conscientizaram que têm de comprar o milho, no primeiro semestre, para assegurar o abastecimento para o segundo”.

“Antes, isto não ocorria, porque o governo subsidiava, ou seja, era como se desse de presente para eles (agroindústrias), mas quem guardava o milho, na verdade, éramos nós, os produtores rurais. E isto está errado”, critica.

Para reforçar esta relação entre agroindústrias e produtores rurais, Ramalho conta que, em uma reunião recente no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o ministro Blairo Maggi deu o seguinte recado: “Olha, tratem de se virar para guardar o milho de vocês, porque o produtor não vai mais guardar”.

De acordo com o vice-presidente da Abramilho, a JBS, por exemplo, é a maior produtora de frango do mundo e a BrFoods compra 10% do milho brasileiro: “Então, como é que agroindústrias de grande porte, como elas, não tinham uma avaliação de que ia faltar milho, já que todo mundo sabia?”, questiona.

“Estamos todos trabalhando, o Paolinelli (ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho e membro da Academia Nacional de Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura) ‘está em cima’ para não liberar o imposto na importação e também para não criar o imposto sobre a exportação”, adianta.

 

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

Ramalho revela que a Abramilho fechou uma parceria com a Embrapa Milho e Sorgo (MG) e a Fundação Dom Cabral (de Belo Horizonte) para realizar uma análise do mercado de milho, englobando as demandas atual e futura, produtividade, produção, regiões onde as variedades estão mais adaptadas, entre outros aspectos. Mas segundo ele, o governo federal rejeitou o estudo.

“Agora, estamos felizes, pois o ministro Blairo Maggi encaminhou o estudo para a assessoria dele, que vai trabalhar em conjunto com a Abramilho, desenvolvendo um plano para o aumento da produção de milho, por meio da iniciativa privada e não do governo”, informa. “Queremos apenas um apoio, um suporte do governo para a criação de uma política pública de preço mínimo.”

 

DISPUTA DE MERCADO

Na opinião de Mário Lanznaster, presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos e vice-presidente para o agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) , a produção brasileira de milho vem caindo, seja pelo efeito do clima (estiagens ou excesso de chuvas) ou do mercado (preços desestimulantes para o produtor rural).

“Para agravar, as exportações deste grão podem chegar a 38 milhões de toneladas e, o que é pior, o produto está sendo exportado para concorrentes do Brasil, que o transformarão em proteína animal na disputa do mercado internacional de carnes”, alerta.

 

Para Mário Lanznaster, presidente da Aurora Alimentos e vice-presidente para o agronegócio da Fiesc, o desabastecimento do milho reflete problemas de gestão e de infraestrutura. Foto: Divulgação
Presidente da Aurora Alimentos e vice-presidente para o Agronegócio da Fiesc, Mário Lanznaster afirma que o desabastecimento de milho no Brasil reflete problemas de gestão e de infraestrutura. Foto: Divulgação

Para Lanznaster, o desabastecimento de milho reflete problemas de gestão e de infraestrutura: “A crise do milho impactou na inflação e encareceu as carnes e os alimentos em geral. Do mesmo modo, a falta de ferrovias, rodovias, hidrovias, armazéns, portos e de aeroportos torna mais penosa e mais cara a produção de carnes, grãos e leite”.

Segundo ele, todo ano, a agroindústria catarinense precisa buscar na região Centro-Oeste cerca de três milhões de toneladas de milho para suprir o déficit interno: “Isto representa mais de 50 mil viagens de carretas por ano, que custam em torno de R$ 6 bilhões”, calcula. “Se existisse uma malha ferroviária ligando o oeste catarinense, polo das agroindústrias, com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, esse custo cairia em pelo menos um terço”, acrescenta.

Lanznaster também destaca que Santa Catarina detém o mais avançado parque agroindustrial de avicultura e suinocultura do País: “Anualmente, milhões de toneladas de rações, cuja base nutricional em 70% é constituída pelo milho, são utilizadas para alimentar 1,2 bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano”, informa.

 

QUEBRA DA SAFRA EM MT

Encomendado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) ao Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) , na safra 2015/16, o estudo “Impactos econômicos da quebra de safra de milho em Mato Grosso” revela que a região deve produzir 19,33 milhões de toneladas desta grão, frente às 26,2 milhões de toneladas na temporada anterior, o que pode causar uma queda produtiva de 26,21%.

 

“Com a falta de produto para ser transportado, o governo estadual deixou de arrecadar R$ 272,75 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), segundo o estudo do Imea”, ressalta o coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja-MT, Emerson Zancanaro. Foto: Divulgação
“Com a falta de produto para ser transportado, o governo estadual deixou de arrecadar R$ 272,75 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), segundo o estudo do Imea”, ressalta o coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja-MT, Emerson Zancanaro. Foto: Divulgação

Coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja, Emerson Zancanaro afirma que a quebra da safra de milho refletiu, inclusive, em Mato Grosso. “Com a falta de produto para ser transportado, o governo estadual deixou de arrecadar R$ 272,75 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), segundo o estudo do Imea”, ressalta.

“Neste ano, o diagnóstico é de perda de renda pelo produtor e pelo Estado, seja pelo ICMS de transporte, seja pela redução dos negócios nas cidades”, relata o gerente de Política Agrícola da Aprosoja, Frederico Azevedo. Ele explica que os estudos do Imea indicam que 50,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de MT decorrem diretamente do agronegócio.

 

Por equipe SNA/SP

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