Campanha Brasil Orgânico e Sustentável traz oportunidades, mas demanda preocupa

Sylvia Wachsner: para atender demanda maior e aumentar a variedade de produtos, produtores precisavam de preparação bastante antecipada. Foto: Adilson Vasconcelos
Sylvia Wachsner: para atender demanda maior e aumentar variedade de produtos, agricultores precisavam de preparação bastante antecipada. Foto: Adilson Vasconcelos

 

Através da campanha Brasil Orgânico e Sustentável, criada para promover os produtos sustentáveis da agricultura familiar durante os megaeventos esportivos, o governo federal pretende gerar uma vitrine para o setor de orgânicos do país, onde, segundo uma pesquisa recente, menos de 5% da população sabem o que são alimentos considerados orgânicos e quais os seus benefícios.

O incentivo, no entanto, não veio acompanhado, na visão dos agricultores, de um estímulo ao planejamento da produção para atender uma demanda maior em tempo hábil. Segundo a coordenadora dos projetos OrganicsNet e Centro de Inteligência em Orgânicos, da SNA, Sylvia Wachsner, a campanha abre “novas portas de comunicação entre produtores e consumidores”, embora não tenha sido traçada, pelo governo, uma estratégia efetiva para o segmento.

“Se, durante as negociações da Fifa com o Comitê Olímpico, o governo tivesse estipulado cotas para se adquirir alimentos orgânicos brasileiros, provenientes de uma produção mais sustentável e limpa, teríamos hoje como atender melhor a demanda”, acredita Wachsner.

“Este tipo de negociação abriria portas para incrementar a produtividade, implementar cadeias de fornecimento e investimentos na agricultura orgânica. Infelizmente, pensou-se nos estádios, mas não na produção de alimentos”, lamenta.

Segundo o coordenador de agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Rogério Dias, as ações feitas durante o mundial de futebol funcionarão como uma espécie de aquecimento para as Olimpíadas. “A análise das ações realizadas na Copa servirá para que o governo trabalhe com bases mais sólidas nas Olimpíadas”, explica ele, acrescentando que os agricultores que desejam incrementar a produção devem conhecer o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), lançado em outubro do ano passado, e “cobrar os órgãos do governo responsáveis pelo projeto”.

A campanha

O projeto Brasil Orgânico e Sustentável pretende funcionar como apoio à divulgação e comercialização dos produtos da agricultura familiar durante os eventos esportivos. Para isso, o governo está selecionando 60 empreendimentos no segmento para apresentar seus produtos em estandes localizados nas cidades que serão sede da Copa.

 

Arnoldo de Campos, do MDS, explica que objetivo da campanha é criar ambiente de negócios e divulgação. Foto: Ana Nascimento/MDS
Arnoldo de Campos, do MDS, explica que objetivo da campanha é criar ambiente de negócios e divulgação. Foto: Ana Nascimento/MDS

 

De acordo com Arnoldo de Campos, secretário de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no total, 12 quiosques vão oferecer produtos de diversas regiões do país, “inclusive daquela região específica em que será instalado o ponto de venda”.

Os interessados podem se inscrever até o dia 26 de janeiro no site do MDS. Para participar, é necessário possuir uma ou mais das seguintes certificações: Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (Sipaf); Produto Orgânico do Brasil; Comércio Justo; Identificação Geográfica; ter maior percentual de sócios inscritos no Cadastro Único para programas sociais do governo; ou acessar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

O MDS determina ainda que os participantes deverão ter padrão de oferta aos mercados de bares, hotéis, restaurantes e varejo. “Queremos estabelecer cadeias de negócios mais próximas, promovendo conhecimento, diálogos com o setor privado, criando ambiente de negócios melhorado e divulgação”, explica Arnoldo de Campos.

Preços

O coordenador de Agroecologia do Mapa não prevê elevação “impactante” nos preços praticados durante o mundial. “A princípio, em altas temporadas, os preços sobem. Mas isso não está atrelado ao produtor e, sim, ao comerciante. Não avaliamos o aumento dos preços como algo impactante. Aliás, isso não seria benéfico para o próprio comerciante, pois os jogos duram pouco tempo”, avalia.

Informação não chega aos produtores

A falta de divulgação e conhecimento em torno do setor é um dos maiores entraves para o desenvolvimento da agricultura orgânica, como ressalta Sylvia Wachsner. “O maior problema que temos atualmente é a necessidade de pesquisar, divulgar e implementar tecnologias que enriqueçam a produtividade orgânica.”

Para ela, é essencial que as informações cheguem aos produtores, “na forma de extensão rural, dias de campo e escolas técnicas, entre outros meios”. “Tudo ainda é muito precário. Necessitamos que os pesquisadores, agrônomos, veterinários e zootecnistas compreendam e se interessem pela produção agroecológica e orgânica, como um caminho para construir no Brasil uma agricultura mais sustentável, que utiliza menos agrotóxicos e químicos. Precisamos melhorar nossos solos, a qualidade da água e outros aspectos. As práticas sustentáveis são o caminho.”

 

Por Equipe SNA/RJ

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