2015 foi um ano de transição para setor sucroenergético, avalia Elizabeth Farina

Para a presidente da Única, Elizabeth Farina, “o ano de 2015 pode ser considerado um período de transição para o setor sucroenergético”. Foto: Marcela Ayabe/Divulgação Unica
Para a presidente da Única, Elizabeth Farina, “o ano de 2015 pode ser considerado um período de transição para o setor sucroenergético”. Foto: Marcela Ayabe/Divulgação Unica

“O ano de 2015 pode ser considerado um período de transição para o setor sucroenergético, por conta de sensíveis mudanças nos mercados de etanol e de açúcar”, afirma a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, em entrevista à equipe SNA/SP. Ela também é membro da Academia Nacional da Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura.

Neste sentido, Elizabeth destaca as alterações nas alíquotas de ICMS aplicadas sobre os combustíveis em 2015 e no início de 2016 em 10 Estados produtores, o restabelecimento parcial da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), a correção da alíquota de PIS/Cofins (Programa de Integração Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) majorada sobre o derivado, a elevação do nível de mistura de 25%  para 27% de etanol anidro na gasolina C e os reajustes de preços praticados pela Petrobras.

“Ainda que essas medidas, em parte, tenham sido delineadas pela necessidade de ampliação da arrecadação federal e melhoria no fluxo de caixa das refinarias, elas contribuíram para a competitividade do biocombustível ante a gasolina”, avalia.

No entanto, a presidente da Unica diz que as medidas mencionadas, apesar de terem trazido algum fôlego para as empresas em operação, são insuficientes para estimular novos investimentos na ampliação da capacidade produtiva. “Ainda precisamos estabelecer uma coordenação entre setor público e privado para a criação de uma agenda de longo prazo positiva para o açúcar e etanol”, sugere.

 

BOM RESULTADOS

Os ajustes na tributação do etanol e a elevação do preço da gasolina garantiram bons resultados às unidades industriais paulistas em 2015, segundo levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Segundo Rejane Cecília Ramos, engenheira agrônoma e pesquisadora do IEA, o aumento da mistura de etanol na gasolina, autorizado pelo Ministério de Minas e Energia também foi bastante positivo para São Paulo. “Ao analisar os dados de venda de combustíveis da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) verificou-se que o estado teve um incremento no consumo de etanol de 24,8% em 2015 em relação a 2014”, compara.

De acordo com a engenheira agrônoma e também pesquisadora do IEA, Katia Nachiluk, outros fatores contribuíram para esse cenário positivo. “As condições climáticas na safra 2015/2016 favoreceram o desenvolvimento da cana-de-açúcar paulista ampliando a oferta de matéria-prima, o que permitirá o crescimento da moagem no ciclo atual”, observa Katia.

“Sem dúvida, o clima foi favorável à cultura canavieira, com aumento da produtividade agrícola e do rendimento das operações no campo”, pondera Elizabeth, concordando com a opinião de Katia Nachiluk, do IEA.

 

CENÁRIO MELHOR

Para safra 2016/2017, a presidente da Unica aposta em um cenário melhor do que aquele observado nos últimos anos. “Entretanto, temos que pontuar que as recentes discussões sobre a política de precificação da gasolina, a retração econômica, a possibilidade de menor consumo de combustíveis e de açúcar, as dúvidas sobre as condições climáticas, a fragmentação do setor produtivo devido à situação financeira precária de parte das usinas, aliado a um ambiente institucional instável, são alguns dos fatores que podem alterar essa condição inicialmente prevista”, enumera alguns gargalos.

Segundo Elizabeth, a importação crescente de combustíveis e os compromissos estabelecidos pelo País na COP-21 indicam a necessidade de crescimento da produção de etanol nos próximos anos. “Para que isso aconteça, precisamos de um arcabouço institucional claro e duradouro, com a definição do papel do etanol na matriz nacional de combustíveis e o reconhecimento das externalidades positivas deste biocombustível e da bioeletricidade”, argumenta.
PRINCIPAL PRODUTO PAULISTA

Informações colhidas e sistematizadas pelo IEA, em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), colocam a cana-de-açúcar como principal produto da agropecuária paulista, com 37,4% (R$23,88 bilhões) de participação no Valor da Produção Agropecuária e Florestal total do Estado, no ano passado.

A cana-de-açúcar ocupa cerca de 6,17 milhões de hectares, distribuídos em 78,3% dos municípios paulistas. Dos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs), divisão administrativa de municípios considerada pela Secretaria de Agricultura, 20 foram responsáveis por 85,0% da produção de cana-de-açúcar em 2015.

A produção paulista de cana-de-açúcar representou 53,4% do total nacional (337,7 milhões de toneladas), 48,4% da produção de etanol (13,7 bilhões de litros) e 61,6% do açúcar (21,9 bilhões de toneladas), segundo dados da Unica, safra 2014/2015.

De acordo com o relatório mensal de acompanhamento da safra 2015/2016, da entidade, houve um incremento de 9,3% na produção paulista. Porém, em decorrência das condições climáticas e do menor investimento na produção, em razão da crise financeira do setor, o teor de açúcares totais recuperáveis (ATR) foi menor comparado à safra passada.

 

As pesquisadoras do IEA, Katia Nachiluk (à esquerda) e Rejane Cecília Ramos, destacam os fatores que contribuíram para a melhoria do cenário para o etanol paulista em 2015. Foto: Divulgação
As pesquisadoras do IEA, Katia Nachiluk (à esquerda) e Rejane Cecília Ramos, destacam os fatores que contribuíram para a melhoria do cenário para o etanol paulista em 2015. Foto: Divulgação

ENERGIA ELÉTRICA

As usinas paulistas são produtoras e exportadoras de energia elétrica a partir da queima do bagaço da cana. As usinas signatárias do Protocolo Agroambiental produziram, na safra 2015/2016, cerca de 18.100 Gwh (unidade de consumo) de energia elétrica. A energia que já é exportada anualmente para a rede por essas usinas, em torno de 10.170 mil Gwh, é equivalente a aproximadamente 26,0% do consumo residencial paulista.

A capacidade instalada das usinas signatárias na safra 2015/2016 foi de 5,2 mil MW de potência, representando cerca de 37,1% da potência instalada da usina de Itaipu (14 mil MW).

 

Por equipe SNA/SP

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